por Ruy Castro
Há tempos, “O Globo” entrevistou uma psiquiatra colombiana radicada no Rio, Julieta Mejia Guevara, sobre maconha, legalização, dependência e tráfico. Como sempre, a opinião de um médico – como ela – difere da de advogados, artistas, jornalistas, ex-presidentes e outros amadores no assunto. Aqui vão algumas de suas respostas ao repórter Chico Otavio.
Sobre a apologia que se faz liberalmente da droga: “Todos parecem opinar sobre o que desconhecem. […] Quando uma figura conhecida, com mais de 50 anos e a vida resolvida, vem a público falar do uso da maconha, não tem consciência do impacto em muitos jovens pré-adolescentes. Tolhidos pela característica da droga, que lhes tira a motivação, eles nunca vão chegar lá. Serão pessoas sem inserção no mercado, com resultados desastrosos em termos pessoais e familiares, além do custo social”.
Sobre se o Brasil está preparado para a legalização: “É razoável descriminalizar. Mas não legalizar, liberar o uso. É necessário separar quem consome de quem trafica.
Quem faz dinheiro com o tráfico está se lixando para a saúde mental de seus congêneres. É um sociopata”.
Sobre as experiências de legalização em outros países: “Um país como a Holanda cabe no Piauí. O Uruguai não liberou o uso, e sim a venda. Há interesse no mercado brasileiro. Países que liberaram estão recuando. Na Colômbia, o dinheiro apreendido do tráfico financia o tratamento”.
Porque aqueles exemplos não servem para o Brasil: “Quando o intuito é a liberação de um porte mínimo, é essencial [levar em consideração que são] 204 milhões de habitantes, numa cultura onde a maioria não prioriza a leitura ou a educação, há analfabetismo alto e um nível de corrupção que não permite investimento prioritário em políticas públicas”. A doutora Guevara é do ramo e sabe o que diz.
*Publicado na Folha de S.Paulo