9:29O sofrimento humaniza

por Tostão

…Muitas pessoas que não acompanham diariamente o futebol, além de muitos torcedores e jornalistas esportivos, possuem uma opinião simplista de que um craque como Messi assume a responsabilidade e define, quando bem entender, brilhar e fazer seu time ganhar. Quando perde, é porque foi indeciso, frouxo, fraco, como se o futebol fosse uma disputa individual e não houvesse dezenas de fatores envolvidos no resultado e na atuação dos jogadores e das equipes.

Após a cobrança dos pênaltis, Messi, amargurado, com a cara mais triste que vi de um jogador após uma derrota, como se tivesse perdido um filho, sentiu-se culpado por não ter feito a Argentina vencer, como era cobrado, e disse que a seleção não era para ele, como se pedisse perdão pelo fracasso. Nunca tinha visto um ídolo tão frágil, abalado e destruído.

O sofrimento demonstrado por Messi parece ter despertado nos argentinos, pelas reações, a compreensão de seu esforço em fazer o melhor e, principalmente, a percepção de que ele não é o craque frio e distante da seleção e do país, como muitos achavam. O sofrimento humaniza o ser humano.

Todos os grandes atletas, de todos os esportes, têm grandes derrotas, como a de Pelé no Mundial de 1966, na eliminação do Brasil, na primeira fase, para Portugal. Existe uma conhecida imagem de Pelé, abatido, saindo do gramado sem a camisa da seleção, com um sobretudo colocado por um inglês, funcionário do estádio. Todos os grandes atletas, após grandes derrotas, sentiram-se fracassados, com vontade de não jogar mais, por causa da pressão de serem sempre os melhores, os atletas perfeitos.

A solidariedade e o carinho que os argentinos têm mostrado com Messi, muito maior que o que ele esperava, podem mudar sua decisão de não jogar mais pela seleção. Tomara! Espero vê-lo no Mineirão, em novembro, contra o Brasil, pelas Eliminatórias da Copa.

Os sonhadores já imaginam um final feliz, com a Argentina campeã do mundo e com Messi fazendo um maravilhoso gol na final. Isso não combina com o tango, um pensamento triste, que nunca poderia dar certo.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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