por Claudio Henrique de Castro
A Constituição consagra o direito ao trabalho e consagra o direito à mobilidade. Enquanto isso, o desemprego cresce e a mobilidade nas capitais brasileiras é um caos.
Falta-nos transporte de massas, falta-nos bondes, trens, metrôs e capacidade dos gestores de administrarem as cidades e seus problemas.
Em ano eleitoral tudo se transformou numa grande fábula. Os publicitários que ganham milhões com as campanhas eleitorais sabem muito bem como encantar as multidões e enganá-las.
Agora a nova “guerra do pente” em Curitiba é a pendenga entre a classe dos taxistas e os motoristas do aplicativo Uber.
As eleições municipais de vereadores e prefeitos impedem que se discuta alguma coisa, pois qualquer vacilo pode fazer perder votos. A classe dos taxistas elege e forma opinião. Os motoristas do Uber e o povo que quer melhores serviços também.
Em São Paulo Maluf sempre foi eleito com o voto de taxistas. É só entrar num táxi que se ouve: “Ele roubou, mas fez”, “Todos roubam, mas ele fez”. Condenado pela Justiça, mas aclamado pelo voto, ele não pode viajar para o exterior para não ser preso pela Interpol.
Resultado aqui na terrinha: a polêmica somente será resolvida depois da eleições, se é que a URBS, a Prefeitura ou a Câmara Municipal têm algo em mente. Cada um joga a batata quente para o outro – e ninguém sabe nada neste momento.
O ideal seria seguir o exemplo de São Paulo: elevar a qualidade e o padrão dos serviços prestados nos veículos e pelos taxistas, assim como, para o aplicativo Uber e outros que vão surgir, criar critérios de admissão, operação do serviço e principalmente taxação e encargos aos cofres municipais, elevando a receita.
Ocorre que ninguém quer aumentar a oferta de táxis, pois se isto acontecer os ganhos dos prestadores de serviços se reduzem e o valor da placa, na maior parte das capitais brasileiras, vai reduzir sensivelmente. Essas placas são verdadeiros cartórios familiares, assim como os cartórios judiciais. Aliás, muitos ex-vereadores detém muitas delas, em nome de terceiros.
O Uber seria uma libertação dos “bagrinhos” que dirigem táxis em turnos, sem registro em CTPS e que sonham com a licença própria.
Afinal, estamos num país cartorial, os partidos são cartórios familiares, os municípios possessões e o corolenismo político ainda se faz presente em várias instâncias da máquina estatal.
Veremos a solução apenas após as eleições – se é que ela virá. Agora estamos em compasso de espera e a cidade tornou-se uma bomba relógio para conflitos repentinos, ou até linchamentos de carros e agressões sem limites e crimes de multidão.
Como diria político Justo Veríssimo, famoso personagem do Chico Anysio: “O povo que se exploda”.