Do blog Cabeça de Pedra
Tenho dois aparelhos de escuta. Entraram nos meus ouvidos há bastante tempo – e eu coloco a culpa na geração Woodstock, que me fez ouvir durante anos e anos os bolachões com o som no volume máximo. O otorrino professor doutor disse que poderia tentar uma cirurgia corretiva, mas o mais sensato seria colocar os escutadores. Comprei suiços. Cada um vale o dobro do carro que me espera no tempo. Prefiro eles, apesar dos perigos que corro de perder, deixar cair no buraco da pia, no ralo, na privada, ou de mergulhar, tomar banho com eles, etc. Controlo o som e o tipo de escuta num relógio. Pareço o James Bond dos pobres em algumas ocasiões. Já estraçalhei um pisando em cima. Ainda bem que o mecanismo, que deve ser um micro-computador, não foi afetado. Agora inventaram um aparelho que é colocado como um chip dentro da zoreia, como dizia meu tio. Coisa pra rico. Fico com os meus, mesmo porque eles dão para o gasto e faço propaganda contra o preconceito que existe em relação a quem usa, como se os tais afetassem o desempenho sexual ou mudassem a preferência com a introjecção. Difícil é ficar sem ou se acaba a pilha e você não tem uma para repor na hora. Aí o cérebro não responde de imediato a ausência dos amplificadores e a gente fica mais surdo ainda. Dependendo da ocasião, no entanto, é melhor. Durante a propaganda eleitoral, por exemplo.