Do blog Cabeça de Pedra
Sempre quis fazer uma coleção de penicos, mas a reação contrária foi grande. Imaginava colocá-los na sala de visitas, um ao lado do outro, em cima de madeira nobre, escura, para realçar cores e formas. Tem gente que nem sabe o que é um penico, artigo de primeira necessidade quando a modernidade dos banheiros dentro das casas ainda não tinha afetado a cultura brasileira. Para quem fazia no mato, por exemplo, um penico embaixo da cama seria a mesma coisa que um computador que atendesse nossas ordens faladas. Um dia li uma definição maravilhosa em jornal satírico dando conta do tal bolo fecal. Poético. Nunca mais esqueci, assim como aquele conto do Rubem Fonseca onde a paixão renasce num casal quando o marido vê, pela primeira vez, o que foi produzido pela mulher num banheiro químico no meio de uma excursão no deserto. Se isso acontecesse dentro da moldura de um penico, o texto se tornaria um clássico da literatura mundial – e o escritor certamente ganharia um Nobel. Alguém já disse que sou escatológico. Gosto da palavra. Prestem atenção na sonoridade. Um dia conversava com um amigo sobre estes temas e ele disse que talvez eu estivesse contaminado. Estranhei. Pediu que saíssemos à rua. A noite estava linda, céu sem nuvens, e ele apontou para uma direção. Dissertou então sobre a Via Láctea – e arrematou que ela era puro coliforme.