“MORO TENTOU interferir na estrutura política do país” – do ministro José Eduardo Cardozo, advogado geral da União e advogado especial de Dilma, ao defender a presidente na comissão do impeachment, ontem. Cardozo fez defesa brilhante, embora tenha também apelado para a ignorância em dois momentos.
Primeiro naquilo de [o juiz Sérgio] “Moro tentou”. E daí? Tentou e não conseguiu, se é que tentou. Por esclarecido que seja, um Michel Temer do PT, Cardozo é petista de raiz, e como tal qualquer iniciativa contra o PT e seus líderes fere os princípios da infalibilidade e do monopólico da boa intenção do partido.
Em outro momento Cardozo saca que Eduardo Cunha leva o impeachment a toque de caixa para se vingar de Dilma, por que esta não o apoiou para livrá-lo do conselho de ética, onde responde a processo por quebra de decoro. Vingança? Ora, desde quando a política se faz com bons modos e boas intenções?
O único avanço civilizatório no comportamento político está na substituição do assassinato físico pelo assassinato político; em regra, os adversários não se matam mais a tiros e facadas – embora mesmo do sacrossanto PT fale-se de alguém morto pelos companheiros. Vingança, Dilma também faz ao demitir indicados pelo PMDB dissidente.
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Apertar o botão Um vereador de Curitiba está sob suspeita de ter votado pela colega ausente à sessão deliberativa da câmara. Ele jura que “não apertou” o botão da votação eletrônica, só deu aquela conferida que qualquer mão boba faz em fruta de feira ou em moça opulenta no ônibus lotado.
Até prova em contrário o vereador é inocente. Trata-se apenas de mais um mão boba. Mera questão de semântica: quem ‘aperta’ botão é alfaiate e costureira. Vereador na câmara e passageiro em elevador ‘pressionam’ o botão. Ou no castiço e adequado português lusitano, ‘carregam sobre o botão’.
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Mirian Gonçalves, vice-prefeita de Curitiba, em artigo na Gazeta do Povo cobra coerência da OAB do Paraná, que apoia o impeachment de Dilma e silencia quanto ao impeachment de Beto Richa, que segundo ela praticou os mesmos atos imputados a Dilma.
É a melódia de o lava jato de Dilma ser o publicano de Richa. Então, na lógica de Mirian, há golpe no impeachment de Dilma porque Beto Richa também teria cometido crime. Depois do besteirol recente, dá gosto ver um petista terçando a boa lógica.
Começando agora, em 34 anos os petistas anos estarão tranchãs em lógica. Foi o tempo passado entre o nascimento de Parmênides, que inventou a lógica, e o de Aristóteles, que a aperfeiçoou. Até lá ficamos com o mi-mi-mi de que que “impeachment sem crime é golpe”.
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Desde que substituiu as tabuletas de argila e o papiro, o papel aceita tudo, tanto que foi adaptado para fins higiênicos, haja vista o papel do mesmo nome. No processo do uso não raro ficamos na dúvida sobre o que vem impresso, se o destino originário ou o destino derivado.
Ao ler nos jornais as frases do ex-presidente Lula falando em defesa de Dilma parece que o produto de nossa imprensa é aquele mesmo papel cortado e preso nos pregos para uso higiênico nas ‘casinhas’. Lula apoiou Michel Temer para compor a chapa presidencial como vice de Dilma.
Agora, na iminência do impeachment de Dilma, Lula sugere que Temer “vá para a rua pedir voto” para se eleger presidente. Se é assim, por que pôs Temer de vice na chapa de Dilma? Para ser apenas o porteiro do palácio do Planalto, o hotel do filme de terror estrelado por Dilma?