7:01O outono da desesperança

por Ivan Schmidt

O constitucionalista de São Bernardo do Campo e proclamador da República de Curitiba, ultimamente o cidadão brasileiro que quebrou o recorde de horas de voo entre São Paulo e Brasília, travestido de animador de teatro de revista Luiz Inácio Lula da Silva desfruta nesse momento também da primazia da quebra de outro recorde: a quantidade de palavras/hora em verborrágica reação à realidade e abissal elucidação da pequenez de seu senso de avaliação do entorno.

Tenho para mim que Lula abriu mão de ouvir os conselheiros mais chegados, se é que ainda existem e ele os consultava, retrocedendo aos tempos da liderança sindical no ABC paulista e aos carbonários meetings no pequeno estádio da Vila Euclides.

Assim como nos velhos tempos da disputa entre patrões e empregados, com a greve geral dos metalúrgicos da região na qual Lula teve participação marcante, a ponto de ascender para o campo da política partidária como fundador do PT, voltou a praticar o discurso bombástico, não raro sem atenção à veracidade dos fatos abordados.

Uma das catilinárias dos últimos dias tem sido a acusação falaciosa de que um golpe está sendo urdido contra a presidente Dilma Rousseff, no que se faz acompanhar pela própria presidente e os gatos pingados do PT, insistindo até para correspondentes internacionais na tese completamente desmoralizada pela serena e profilática intervenção de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que por dever de ofício e formação moral têm a obrigação de oferecer à nação a insuperável interpretação das leis.

Não bastasse isso, três ex-presidentes da mais elevada instância da justiça brasileira, ministros Sidney Sanches, Carlos Velloso e Carlos Ayres Brito, homens que chegaram ao ápice da carreira profissional pela devoção aos estudos jurídicos e constitucionais,  foram unânimes em afiançar que no caso em tela não há o menor componente golpista, desde que sejam seguidas com todo o rigor as normas específicas consagradas pela Constituição.

E dentre os integrantes atuais do STF já se proclamaram na mesma linha de raciocínio, os ministros Celso de Mello (o mais antigo da corte), Gilmar Mendes, Antonio Dias Toffoli (que já foi advogado do PT) e Carmem Lúcia, além de evidências solares de que pensam da mesma forma o presidente Ricardo Lewandowski e os ministros Luiz Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber. O ministro Marco Aurélio Mello é sempre uma surpresa.

Aliás, foi o ministro Celso de Mello quem interpretou em toda a plenitude da forma o pensamento doutrinário do Supremo, movido pelo exemplar apego à longa carreira na magistratura, e sem a menor concessão à demagogia ou ataques gratuitos que não fazem parte do manual de conduta do verdadeiro juiz.

Em luminoso pronunciamento desnudou perante a nação a indigência intelectual do ex-presidente, que em telefonema grampeado com autorização da Justiça Federal havia sugerido a felonia de estar “o Supremo acovardado”.

Nem o senhorial passa-moleque foi suficiente para sufocar o destempero de Lula, Dilma e do baixo clero petista, cada vez mais pressionado pelo círculo de fogo do impeachment cujo processo segue, sem tirar nem por, o rito prescrito pela Constituição.

A desesperança petista transborda na medida em que na presidência da Câmara, onde o processo foi instaurado, está a figura assaz repulsiva do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem os palacianos mais empedernidos atribuem a condição de inimigo número um, incriminando-o entre outras coisas de agir inspirado pela vendeta ao bancar o processo de afastamento da presidente, com base no crime de responsabilidade das pedaladas fiscais.

Viu-se na segunda-feira mais uma nuança do espetáculo grotesco que – o risco é muito grande – poderá ser replicado até o limite da insanidade daqui em diante pela militância infiltrada no partido e nos movimentos sociais (onde o próprio Lula imagina contar com um exército fiel).  O ato vergonhoso ocorreu na tentativa de impedir que representantes da OAB federal protocolassem na Câmara um novo pedido de impeachment.

Na falta de argumentos aceitáveis e antecipando o travo amargo da derrota anunciada, porque todos os cálculos revelam a acabrunhante insuficiência de votos para barrar o processo tanto na comissão especial quanto no plenário, o recurso é partir para a truculência.

Com a oficialização do desembarque do PMDB do governo, aprovada por aclamação no encontro do diretório nacional na última terça-feira (29), ninguém mais aposta um tostão furado na continuação do governo Dilma Rousseff.

Nas calendas dizia-se que os ratos abandonam o navio quando percebem que o mesmo está adernando perigosamente. Pode ser o caso do PMDB, que nos últimos 20 anos esteve sempre encalacrado nos governos que se seguiram.

Contudo, que ninguém se faça de desavisado diante do histórico pragmatismo – muitos preferem fisiologia – do grêmio que teve figuras de escol como Ulysses e Mário Covas dividindo espaço no mesmo barco com Orestes Quércia e Roberto Cardoso Alves, deputado federal por São Paulo que à época do governo Collor justificava sua posição ambígua na oração de São Francisco: “É dando que se recebe”. Nada do que acontece hoje é novidade partindo do PMDB.

Em política a informação de cocheira tem valor inestimável e se o desembarque se concretizou é porque figuras da cúpula peemedebista (Temer, Renan, Jucá, Padilha e Moreira Franco) foram convencidos por um conjunto gritante de razões da inexistência de qualquer chance de sobrevivência para o governo. E continuar apertando parafusos num calhambeque em pane irreversível cobraria um preço muito elevado, quem sabe até a implosão do partido.

Não se pode tirar a razão de quem opina que as raposas do partido-ônibus (a definição está entre as melhores contribuições de FHC para a política nacional), em surto de má fé miram os próprios umbigos e se imaginam mais uma vez chegando ao exercício do poder supremo, diante da inevitabilidade do afastamento de Dilma. Aconteceu antes com José Sarney e Itamar Franco, e agora o poder está caindo de podre nas mãos de Michel Temer.

Concluo com o fecho do artigo do jornalista Fernão Lara Mesquita no Estadão (30.3), a meu ver perfeito: “Desde 2013 o Brasil vem ensaiando nas ruas a conquista da sua maioridade. Mas não tem conseguido definir um horizonte que lhe permita estabilizar esses ensaios num voo de longo curso e com rumo definido. Para sonhar com um Brasil institucionalizado onde caiba a vitória do bem, conquistar o direito à última palavra sobre o nosso próprio destino é a única coisa adulta a fazer”.

7 ideias sobre “O outono da desesperança

  1. Sergio Silvestre

    Meu Deus do céu,misturar conversas de oráculos romanos e misturar o palavreado do Lula e tentar dizer que aquilo que querem fazer com a Dilma está tudo dentro da lei.
    Vão para o diabo que os carregue,é o mesmo de entrar num fórum com uns pinguins soberbos citando frase latinas para livrar criminosos e prender inocentes.
    Comecei a ter enjoo de tanta firulas com esses colonistas de finais de semana,por que comecei a perceber que parece desfile de escola de samba,parece que todos os anos é a mesma coisa,com alguma nova aquisição ou para o colonista alguma frase pinçada da novela da Globo.
    Ai vem o puxa saco Parreiras e mesmo sem entender bulhufas vai vendendo seu passe de claqueiro do Campana,para tecer loas para quem escreve um monte de tolice abordando o “golpe de estado”.

  2. TOLEDO

    Prezado Sr. Ivan, como esse texto e esse pensamento, o ilustre coxinha poderia obter emprego no Jornal o Globo, na Revista Veja,
    na Revista Quanto È, Revista Época ou ainda na TV Globo, Globo News ou nos Jornais, o Globo, Estaão de São Paulo, Folha de São Paulo, mas devido não precisar de Vale Transporte poderia trabalhar na Gazetumba do Povo.
    Que nem vinho, quanto mais velho melhor. Vejo que lhe sobra verbos mas lhe falta critica. Respeite os mais de 50 milhoes que não votaram no seu candidato. Pô meu, toma um Frontal.

  3. zé povinho

    Disse tudo Ivan, parabéns. E para os militontos e esquerdopatas de sempre as minhas sinceras condolências pelo fim antecipado deste desgoverno da companheira Dilma. Antes tarde do que nunca. Ou também poderia dizer, já vai tarde.

  4. Ivan Schmidt

    Por ora prefiro mandar minhas colaborações para o blog do Zebeto, que de tão democrático as publica, bem como as respostas de seus leitores…

  5. Sergio Silvestre

    Que diabo é isso Toledo,Frontal la em Rancho Alegre e umas fotos que o ZB posta com uns frontal apetitosos,

  6. leandro

    O padrão de dois comentaristas e suas “inteligências”, são coisas que não estão bem explicadas pela normalidade da média de um ser humano.
    Em suma ambos não tem nenhum alcance para comentar o que o Ivan escreveu. Alí , nos comentários, dos dois signatários, a burrice e ignorância chegaram e se acomodaram e sentiram que o território era propício para ali se instalarem e não sair tão cedo. Pena porque a todo ser “humano” é dado o direito de escolher, uns querem progredir e abrir suas mentes para o óbvio que está diante de seus olhos, mas o problema é que o cérebro não processa essa informações e o cara fica mesmo burro.

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