Do blog Cabeça de Pedra
A turma se achava da pesada. Quase gangue. Treinavam dia e noite para o dia em que o pau fosse comer firme – não importa contra quem e em qualquer lugar. Esse papo surgiu certa vez quando, pra variar, saíram da academia de porrada e foram tomar muitas num boteco sórdido Sabe como é: muito treino e… quebrar alguém, nunca. O lero filosófico de treinar pancadaria para manter o equilíbrio era encarado como coisa de goiaba. Até que um dia aconteceu. Foram para um baile nas quebradas do mundaréu. Lá, um da turma, entusiasmado pelo balde de rabo-de-galo que tinha tomado, se engraçou com uma menina de olhos azuis da cor do mar. Ela estava com o namorado. Um mirrado, seco, que não gostou da paquera e engrossou. A tropa se reuniu e mandou ele chamar a turma, porque bater em um só seria covardia. O desafeto disse que não tinha turma e que só andava na companhia de uma coisa, além de Deus. Antes que os brigões dissessem alguma coisa, o baixinho mostrou: o globo que refletia luz fez brilhar a lâmina da larga navalha. Havia um desenho nela – e o cabo era de osso. Num piscar de olhos o espirro de gente tirou os sapatos, as meias, colocou a arma branca e fatal entre os dedos – e um rabo de arraia cortou o ar. Todos correram como nunca. O salão inteiro, aliás. Ficou o casal sozinho olhando aquilo. A menina, de voz doce e meiga, então disse: “Na hora em que o pau come, nem sempre quem tem pau fica”. E riu apaixonada para o seu herói.
Já vi semelhante, é assim mesmo.