Da Folha.com Morre, aos 71 anos, o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos
O percussionista pernambucano Naná Vasconcelos morreu na manhã desta quarta-feira (9), aos 71 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória, segundo informou o Hospital Unimed III, no Recife, onde ele estava internado por complicações de um câncer no pulmão.
Naná foi eleito oito vezes melhor percussionista do mundo e venceu oito prêmios Grammy, o mais importante da música.
Naná passou mal depois de um show realizado em Salvador, no dia 28 de fevereiro, com o violoncelista Lui Coimbra. Ele estava internado no hospital desde o dia 29. Apresentava infecção respiratória e arritmia cardíaca, além de uma progressão do tumor.
Há meses, o percussionista tratava um câncer de pulmão, descoberto em agosto do ano passado.
A música vem do berço, pois o pai de Naná, Pierre, tocava manola –violão tenor de quatro cordas, amplificado. Segundo o próprio Naná, aos 11 anos, ele já queria ser percussionista.
O apelido Naná foi dado pela mãe, Petronila, quando ainda moravam no bairro Sítio Novo, em Olinda. Diz-se que ela foi “encurtando de Juvenár” –primeiro nome do percussionista– até chegar em Naná.
Em 1970, quando Gato Barbieri, saxofonista argentino, o convidou para fazer parte do seu grupo, o percussionista começou uma longa carreira internacional. Com ele, o brasileiro se apresentou em festivais nos Estados Unidos e na Europa.
Acabada a turnê, Naná foi morar em Paris, onde em 1971 gravou “Africadeus”, seu primeiro trabalho.
Em 1972, gravou “Amazonas” e deu início a uma parceria com Egberto Gismonti, que durou oito anos e três álbuns: “Danças das Cabeças”, “Sol do Meio-Dia” e “Duas Vozes”.
A partir daí, foi para Nova York, formou o grupo Codona com Don Cherry e Colin Walcott, gravou com B.B. King, Talking Heads e Jean-Luc Ponty e fez turnê com o guitarrista Pat Metheny.
Nos anos 1980, fez experiências com instrumentos eletrônicos, que renderam os álbuns “Bush Dance” e “Rain Dance”.
Nessa época, passou a ser ainda mais presente no cenário musical brasileiro, gravando com nomes como Caetano Veloso, Mundo Livre S/A e Marisa Monte.
Naná ainda idealizou projetos como o ABC das Artes Flor do Mangue, que trabalha com crianças carentes.
A boa recepção crítica internacional ao trabalho de Naná era tão ou mais significativa que sua reputação no próprio país. Ele tinha entre seus fãs o cineasta italiano Bernardo Bertolucci.
Aqui, tinha entre os admiradores Gilberto Gil, Milton Nascimento e muitos dos músicos da cena roqueira pernambucana, entre eles Otto, que gravou a canção-homenagem “O Celular de Naná” (“O celular de Naná é a Lua/ A Lua é o celular de Naná”).
Artistas e personalidades da cultura lamentaram a morte do percussionista.
O cronista Antonio Prata escreveu no Twitter: “Se o Naná Vasconcelos fosse americano, o Brasil ia estar de luto”.
MARACATU
No Recife, há 15 anos, ele era responsável por abrir o Carnaval da capital pernambucana, regendo mais de 400 batuqueiros de maracatu. Os grupos de maracatu nação ou maracatu de baque virado são formados por músicos e dançarinos que vivem na periferia da região metropolitana do Recife.
Ligadas às religiões de matriz africana, em especial o candomblé, os grupos usam símbolos, cânticos, danças, indumentárias e adereços em homenagem aos orixás e outras entidades. Durante os dias de folia, eles ganham a programação da festa, incluindo o principal palco: a Praça do Marco Zero.
“Estar no palco mais importante do Carnaval do Recife tem alavancado os grupos. Não é fácil manter um maracatu, mas, graças a Naná, a cada ano temos ganhado mais apoio e sendo mais valorizados”, afirmou Jailson Viana Chacon, 46, conhecido como mestre Chacon, do centenário grupo Maracatu Nação Porto Rico –a entrevista foi dada antes da notícia da morte do percussionista.
Um mês antes do Carnaval, Naná iniciava os ensaios com as 11 nações de maracatu. Os encontros acontecem nas sedes dos grupos e, na semana anterior à folia, no bairro do Recife Antigo.
Mesmo com câncer, ele participou da abertura do Carnaval da capital pernambucana deste ano com seus 400 batuqueiros.
Há 18 anos à frente do grupo, Chacon contou que a luta de Naná para colocar os maracatus na abertura do Carnaval “coroa o esforço diário das nações”. “Temos um trabalho social intenso durante o ano inteiro, com oficinas de percussão e de dança na periferia onde temos nossas sedes. É, sem dúvidas, uma vitrine fundamental para a cultura pernambucana”, disse.
Integrante de outro grupo –o Maracatu Nação Pai Adão–, Taiguara Felipe da Costa, 41, também reconhece o trabalho de Naná e diz que ele ajudou a tornar a dança conhecida. “Com ele, somos vistos pelo mundo inteiro e isso mexe com a comunidade que passa a olhar o maracatu com outros olhos”, afirmou ele, fundador e presidente do grupo.
Segundo seu site oficial, Naná tinha agendada para o próximo mês uma pequena turnê pela Ásia.
No dia 15, faria um ensaio aberto com Egberto Gismonti em Xangai, na China. No dia seguinte, o percussionista se apresentaria em um evento da gravadora ECM. No dia 20, faria show com Gismonti em Tóquio (Japão) e, no dia 22, na Coreia do Sul.
‘GUERREIRO DA CULTURA POPULAR’
Única mulher à frente de uma nação de maracatu, mestre Joana D’arc classifica Naná como um guerreiro responsável por ajudar a manter a cultura popular brasileira.
Ela conta que, com o maracatu abrindo o Carnaval em Pernambuco, as nações também ganharam a oportunidade de realizar intercâmbio com artistas locais e de outros países. Neste ano, Naná fez com que os batuqueiros dividissem a apresentação com e com Lenine e a cantora Sara Tavares, de Cabo Verde.
O músico deixa a mulher, Patricia Vasconcelos, e duas filhas. Naná era irmão do também percussionista, cantor e compositor Erasto Vasconcelos.
O velório está marcado para as 14h, na Assembleia Legislativa de Pernambuco. O enterro será nesta quinta (10), a partir das 10h, no cemitério de Santo Amaro, área central do Recife.
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ALGUNS DISCOS DE NANÁ
Sinfonia & Batuques – 2010 Chegada – 2005 Isso vai dar repercussão (com Itamar Assumpção) – 2004 Minha Lôa – 2001 Fragmentos – 2001 Contaminação – 1999 Storytelling – 1995 Contando estórias – 1994 Rain dance – 1989 Duas vozes – (com Egberto Gismonti) 1984 Naná Vasconcelos – 1980 Africadeus – 1971
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RAIO-X JUVENAL DE HOLANDA VASCONCELOS
NASCIMENTO 2.ago.1944, Recife
CARREIRA Começou a tocar com o pai, aos 12. Nos anos 1960, dedica-se ao berimbau e se muda para o Rio, onde toca com Milton Nascimento. Em 1970, faz turnê na Europa e nos EUA como saxofonista argentino Gato Barbieri. No Brasil, lança discos em parceria com Egberto Gismonti. Volta a Nova York onde funda, com Colin Walcott e Don Cherry, o trio Codona. Volta ao Brasil em 1986. Em 9 de dezembro do ano passado, recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Oi,
que artigo bonito!
Eu sei o quão difícil é ter um blog!
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Beijos!