por Igor Gielow
Luiz Inácio Lula da Silva tem méritos nos seus 2.922 dias como presidente do Brasil, independentemente de sua real intenção e do fato de que boa parte deles evaporou devido às más escolhas feitas pelo petista e seu grupo.
Isso nada tem a ver com inimputabilidade. Lula demonstrou não ter aprendido com a lição de sobriedade que lhe foi aplicada nesta sexta (4) pela Operação Lava Jato.
Após o previsível “sacode”, Lula fez o que sabe melhor: envergou a armadura do oprimido por elites e partiu para o ataque, dobrando uma aposta cantada. Com direito a punho cerrado, imagem imortalizada pelos tresloucados comunistas alemães da década de 1920, aqueles cujo radicalismo ajudou a colocar os nazistas ao poder. Ah, e também dos mensaleiros condenados à prisão e afins.
Tratei várias vezes aqui desta “Kulturkampf”, a guerra cultural incentivada por Lula mesmo depois de conquistar o poder e adular as elites que adora atacar –propriedades de brinde são uma face visível da gratidão do pessoal ora em Curitiba.
A retórica do “nós contra eles” é parte integral do lulismo. Defesa do que é acusado, não. Lula crê estar, como já disse sobre o antecessor José Sarney, acima desses detalhes.
Algum apoio ele sempre terá, na forma de “progressistas” (aspas, por favor) ou da militância chapa branca. Lula aposta na criação de tensão social midiática para assustar “elite”, mostrando que a “jararaca está viva”, como discursou após depor.
Já começou: enquanto escrevo estas linhas, uma miniturba faz barulho em frente à vizinha sede da Globo em Brasília na esperança de alguma repressão policial a fornecer vítimas.
A aposta nas ruas é frágil. Nem Dilma Rousseff, enrolada pelo enredo da Lava Jato, pela crise econômica terminal e pela ingovernabilidade que preside, a abraçou em sua fala na sexta. O fôlego da tática lulista será testado, com riscos evidentes, até o ato pró-impeachment do dia 13.
*Publicado na Folha de S.Paulo