por Bernardo Mello Franco
A bomba de Delcídio do Amaral estourou no Planalto. A presidente Dilma Rousseff foi avisada da delação na manhã de ontem, pouco antes de dar posse a três novos ministros. Apareceu em público com o semblante carregado. No salão lotado, os convidados só falavam das acusações do senador, antecipadas pela revista “IstoÉ”.
Dilma repetiu o discurso de que seu governo combate os desvios de dinheiro público. “A corrupção está sendo investigada livremente e sem pressões”, disse. Sem citar Delcídio, parecia ensaiar uma resposta a ele. Segundo a revista, o senador descreveu articulações para frear a Lava Jato e ajudar políticos e empreiteiros em apuros. Num dos casos mais graves, acusou Dilma de nomear um ministro do Superior Tribunal de Justiça para facilitar a libertação de presos.
Depois das posses, o governo traçou sua estratégia: desqualificar o delator. “Há muita poeira e pouca materialidade”, criticou o ministro Jaques Wagner. “Delcídio não tem primado por dizer a verdade”, emendou o colega José Eduardo Cardozo. “Ele não tem credibilidade para fazer nenhuma afirmação”, prosseguiu.
É uma tática curiosa, porque poucos parlamentares tiveram tanta credibilidade aos olhos do Planalto como Delcídio. Ao ser preso, em novembro passado, ele ocupava o cargo de líder do governo no Senado. Era conselheiro frequente de Dilma e do ex-presidente Lula, com quem mantinha reuniões semanais.
É ocioso dizer que o senador abriu a boca por vingança depois de ser afastado do PT. Ele acusou os ex-aliados para se livrar da cadeia, como todo delator. Agora terá que apresentar provas do que diz, ou não terá os benefícios de redução de pena.
Habilidoso no trato e nas palavras, Delcídio costumava ser comparado a um bombeiro. Era acionado sempre que os petistas precisavam resfriar escândalos e apagar labaredas no Congresso. Por ironia, ele agora se tornou o incendiário mais temido pelo governo.