por Zé da Silva
Na rodoviária, pouco antes de embarcar no ônibus numa manhã de terça-feira, a mocinha tirou a carteira do bolso e, ao abri-la, um papelzinho retangular, minúsculo, brilhante, caiu sem que percebesse. Era igual ao que eu tinha dentro da minha carteira, muito bem protegido. Avisei. Ela agradeceu, pegou a recordação e, agora, guardou-a com todo cuidado. Cor de prata. Os dois vieram de uma chuva saída de canhões ao lado de um palco pequeno, um tablado, no meio daquele espaço no estádio. Ali em cima houve uma celebração aos tempos do começo da banda, na Inglaterra, quando não sabiam que se tornariam lendas. Antes deles, o poeta também foi roqueiro. Há quanto tempo? Não há tempo para isso. Para sempre. Bob Dylan e Rolling Stones numa noite de segunda-feira em São Paulo. O papelzinho guardado aqui e lá, no coração da menina que embarcou num ônibus para o coração do Brasil.