por Zé da Silva
Venceu todos os medos que o atormentavam. Isso porque tinha jurado a si mesmo cumprir um ato em homenagem ao inimigo que um dia o ameaçou de morte – em forma de bravata, é verdade, mas era uma ameça. Tiro na cara. Não sabia que seu departamento interno de vingança era forte e decidido, afinal, toda a vida foi inseguro em tempo integral. Soube da morte através dos jornais. A figura era conhecida. Anotou horário e endereço do velório e apareceu quando a sala com o defunto estava lotada por familiares e gente conhecida da chamada sociedade. O morto era muito conhecido. Chegou perto do caixão, olhou o rosto macilento e frio do velho, puxou lá do fundo da alma alguma coisa que, sim, poderia ser catarro guardado para a ocasião, e cuspiu. No rosto. Houve um silêncio – ninguém reagiu. Ele então saiu tranquilo. A missão estava cumprida. No dia seguinte não leu nenhuma linha nos jornais ou ouviu relatos sobre o fato nas rádios ou televisões. Teve certeza de que toda a cidade gostaria de fazer o que ele fez.