por Zé da Silva
Guardei aquele ovo cozido o quanto pude. Há muito tempo andava por terras cinzas e sob céu da mesma cor. Como estava ali, não interessa a ninguém. Um pássaro surgiu e soltou um grito. Era preto e grande. Não, não era urubu, apesar de eu estar sentindo cheiro de carniça. Foi logo depois disso que vi a porta. No meio do nada. Enorme. Abri. Vi Shangrilá. Senti Shangrilá. Entrei em Shangrilá. Pigmeus dourados me cercaram. Não havia o Fantasma. Tiraram minha roupa. Acharam o ovo. Descascaram. Colocaram num altar. Depois me deram um banho em águas cristalinas, comida, roupas de um nobre que deve ter passado por ali há séculos. Havia uma coroa. Está na minha cabeça. Não sei o que é isso, mas gosto. Na terra de bolas murchas quem tem um ovo é rei.