Do blog Cabeça de Pedra
No fundo da caverna havia uma poça de água. Era luminosa, apesar da escuridão daquele canto. Eu ouvia o barulho do mar lá fora – e não sabia o quanto tinha andado até chegar ali. O paredão que ia até o teto era muito alto. Aquilo parecia uma catedral. Fiz das duas mãos uma concha e peguei a luz. Não vi mais nada. Imediatamente estava em outro lugar, como num livro do Stephen King onde uma escada dentro do trailer levava o curioso para uma outra dimensão. Vi um espelho. Um, não, vários. Minha imagem era em preto e branco, bem contrastada, como num filme fotografado pelos mestres que foram para Hollywood antes de meados do século passado. Os olhos permaneciam coloridos, verdes – e havia uma lágrima imobilizada abaixo do direito. Ela brilhava. Não tive medo. Uma paz tomou conta de tudo. Não tive vontade de voltar, nem de explorar o ambiente, mas toquei no espelho mais próximo. Minha mão atravessou. Aí segui em frente. Estava de novo na caverna, só que saindo e sentindo a brisa que vinha do oceano. Ele era verde. Como meus olhos. Chorei de emoção. Uma lágrima que saiu do olho esquerdo entrou pelo canto da boca. Me senti alimentado.