por Zé da Silva
Três pentes carregados até a boca com balas calibre 45. Estavam embrulhados em papel pardo – e o corpo dourado das primeiras balas brilhava, mas o que mais chamava atenção eram as pontas, vermelhas. Estavam dentro do casarão antigo e silencioso no sopé da serra famosa. Havia muita paz ali, até quando o dono olhava as armas herdadas do período em que foi militar. Um oficial humanista, profissional. Os pentes eram de uma metralhadora. Ele tinha mais armas – cinco, ao que consta. Comandou unidades ate que aconteceu algo que não estava manuais da caserna. A tomada do poder, que foi contra, as prisões arbitrárias, os relatos de tortura. Sua voz não ouvida em meio a loucura. Então foi embora, pediu para sair, ganhou a patente máxima, vestiu o pijama e, cinco anos depois, em depressão profunda, partiu para sempre. Três espadas brilham numa parede do casarão. As que orgulhava empunhar por representar a conquista dos seus sonhos de menino. Os pentes carregados até a boca estão num armário acessível só com escada. Quanta história ali no metal negro um pouco enferrujado… Havia temor. De que lado? A casa é toda branca e fica encravada em meio a um jardim imenso. Há uma piscina. Móveis antigos, quadros… e três pentes de uma metralhadora agora imaginária.