de José Maria Correia
Uma calmaria de ausentes ventos.
Na aridez do deserto de pedras
Onde montanhas de nevados cumes
Derretem ao sol seus glaciares.
Escondem cavernas desconhecidas
Na profundidade,torres de marfim
E perdidos lagos ornados de jasmim
Onde vivem anjos elfos e querubins,
Submersos altares de catedrais
Sonhos de visionário abrasados
Confessionário e gastos vitrais
Com marcas de joelhos dobrados
Imagens da via dolorosa e penitente
Onde de paixão estive crucificado.
E ecos de lamúrias e constantes gritos
Das sucessivas perdas e danos
Traições,ilusões vãs e enganos
Rezas de promessas e antigos ritos.
Mitológicas Escunas latinas
Em jornadas de previsíveis naufrágios
Buscam repousos de seus navegares
Nos litorais das praias africanas
Fugidas de agouros e maus presságios.
Além do esquecimento,do horizonte
As garrafas com bilhetes manuscritos
E a inutilidade das poesias vazias
Trazem rumores densos,alegorias
Entre noites ,livros e os outros dias
Sete acordes na lira do desejo
Toca o cego em realejo afinado
E na rua de passos remarcados
Vou e volto, leve,apressado
Invisível,trôpego,amargurado
No andar de descompassado
Há sim ,um portão do amor passado
Indiferente ao que se passa ao lado
Nem do esquecimento é perdoado
E para abrir-se foi assim criado.
Na madrugada insone de conflitos
Uma luz apenas na cidade perdura
Da lua e das estrelas emoldura
Raios de aurora e de prata pura
E no Templo das Musas murmurantes
A casa de praia hoje tão distante
Abriga marcas e sons dos amantes
Trágicos espelhos,batons e perfumes
Refletidos cantos, gemidos flutuantes.
Ali esconderijo da alma errante
Meu coração já ressuscitado
De temores,incertezas e sombras
Guardado por tigres do Tarot Cigano
Obscuramente vive de passado
Angústia,olvido e desmemória,
Até que se reescreva ,outra vida
Outro tempo ou outra história.