21:03HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Como se fosse bem depois do naufrágio. Este que veio anunciado depois de anos em meio a tormenta. Um raio de sol às vezes furava o negrume das nuvens em movimento. A água que entrava na boca não era salgada, era salobra. A luz parecia com a da cena onde Derzu Uzala corre para fazer a cabana a fim de se proteger da tempestade de neve. Ele não morreu. Nem eu. O barco afundou, fui ao fundo do mar, vi e ouvi sereias, baleias, golfinhos – tubarões não me quiseram. Então, acordei na areia – e era dourada. Fiquei descansando. Quantos dias? Quantos meses? O que importa? Olhei o céu e pela primeira vez vi que era a azul e que as nuvens eram brancas e tinham formas e mais formas. Água fria e doce mataram minha sede e refrescaram meu corpo. Havia sombra, brisa, montanha, mata, pássaros, frutas. Em pouco tempo me senti vivo e com vontade de vida. Então vi a porta ali adiante. Abri. Os meus estavam ali. Os que foram, os que estão, os que amo, os que me amam. Não fechei a entrada atrás de mim. Para olhar sempre – recordar e não esquecer. O naufrágio. E antes do naufrágio. Para saber que é possível caminhar e atravessar – e dar valor ao que é o normal, o real e o que vale.

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