por Dirceu Pio
Chamava-se Grupo Lume porque tomava as iniciais do nome de seu dono, Lynaldo Uchoa de Medeiros, um dos maiores estelionatários deste país. Em Pernambuco, seu estado natal, antes de galgar a carreira dos grandes ladrões nacionais, já dava demonstrações explícitas de sua arte – a esperteza: aproximava-se de um alto funcionário da Caixa Econômica Federal à qual havia solicitado um empréstimo de milhões; propunha uma aposta: “ Aposto um Galaxie se esse meu contrato sair”; saía, é claro, e ele pagava a “aposta” com um largo sorriso na cara de malandro; o Galaxie, o carro mais caro da época, era o sonho de consumo dos funcionários públicos que já amavam pixuleco.
O Grupo Lume era um império; possuía de banco, que nadava de braçada no dinheiro do BNH para financiamento da casa própria, à mineradora, que ainda no começo dos anos 70 ganhou da Petrobras a exploração da jazida de potássio do Sergipe, uma das maiores do mundo; o potássio é um dos componentes do adubo químico.
Os jornais da época se encheram de manchetes alvissareiras: agora sim o Brasil deu a largada para conquistar a autossuficiência em potássio, agora vai, agora vai, mas acabou não “fondo” como diria aquele jogador gaúcho. O Grupo Lume simplesmente sentou sobre as jazidas e preferiu ganhar dinheiro com a tradicional esperteza de Lynaldo: o grupo negociou uma montanha de propina com os países que exportavam potássio para o Brasil com a promessa de não abrir-lhes concorrência em terras sergipanas.
A manobra só foi descoberta mais de 20 anos depois quando o Brasil gastara zilhões de dólares com a importação do bendito potássio; era o final do governo Figueiredo e a paralisia do Grupo Lume já dava muito na cara; a outorga foi retirada do Lume e entregue à Petrobras.
Agora vai, agora vai, mas outra vez deu a lógica do jogador de futebol gaúcho: acabou não fondo; a máfia que quase destrói a maior estatal do país deve ter descoberto o Jeito Lume de Ser, de modo que a empresa também sentou no potássio e pouco fez para a extração.
Em 1991, a Petrobras arrendou o direito de exploração do Potássio sergipano, adivinhem para quem? Para a – tcham, tcham, tcham! – Vale do Rio Doce; Lynaldo foi realmente um mestre: ensinou o caminho das pedras para todos, democraticamente.
Talvez para “inglês ver”, a Vale deu início imediato à exploração de uma pequena jazida em território sergipano (Taquari–Vassouras) e só fez arranjar desculpas, as mais esfarrapadas, para atrasar a exploração da jazida principal. Só a história de que dois pequenos municípios – Japaratuba e Capela, onde estão localizadas as jazidas principais – brigavam pela arrecadação de impostos fez com que a Vale ganhasse 5 preciosos anos de tempo de atraso no início da exploração. Quer dizer, mais uma vez os interesses da Nação são submetidos aos interesses regionais e de uma empresa que depois de ser privatizada voltou para o “doce capitalismo” à lá PT.
O início da produção agora está previsto para 2017 e não é de todo improvável que a Vale adie por mais alguns aninhos, isto se o juiz Sérgio Moro não resolver investigar essa história. Com a produção da jazida sergipana em todo o seu potencial, o Brasil pode não alcançar a autossuficiência, mas deve arranhá-la.
A produção brasileira de potássio ainda é ridícula, sobretudo se considerarmos que as reservas sergipanas e amazonenses podem nos trazer uma folgada autossuficiência. Nesta semana foi lançada na Câmara dos Deputados a “Frente Parlamentar pela Defesa, Apoio ao Potássio Brasileiro”. O deputado roraimense, Edio Lopes (PMDB), atuará como vice-presidente da Frente e é ele quem diz que os gastos do país com a importação do potássio chegam a R$ 5 bilhões anuais.
NOSSO ABAIXO-ASSINADO PELA CASSAÇÃO DA OUTORGA DE MINERAÇÃO DA SAMARCO JÁ ESTÁ PRÓXIMO DAS PRIMEIRAS DUZENTAS ASSINATURAS. AJUDEM A ENGROSSAR AS ADESÕES PELO BEM DO BRASIL, SEGUE LINK:
https://www.change.org/p/