por Yuri Vasconcelos Silva*
E se você pudesse apontar uma lanterna para o céu escuro, acendê-la e correr atrás da luz? Não é um absurdo nem um poema. Era o tipo de pensamento que existia na cabeça de Albert Einstein, e culminou com a elaboração da Teoria Geral da Relatividade em artigo publicado há cem anos neste mês. A imaginação fértil do gênio derrubou o reino de Newton sobre a gravitação universal, transformou as bases da física clássica para a moderna e, como efeito colateral, permitiu o desenvolvimento das armas termonucleares.
Não tão simplista como a equação E=mc2, mas também nada tão indecifrável como uma esfinge de cabelos desgrenhados, a Relatividade Geral incluiu a percepção engenhosa de como a gravidade de fato age, e substituiu a então teoria newtoniana para as maçãs que caem. Como isso aconteceu?
Einstein se perguntou o que aconteceria com a natureza quando se atinge a velocidade da luz. Ele vislumbrou um universo bastante bizarro, mais que qualquer delírio ficcional. Sua teoria implica que, à medida que um corpo acelera, todo referencial estático ou em menor velocidade operam em um ritmo mais lento. O tempo passa em um compasso desacelerado para quem se desloca de forma acelerada. Relógios atômicos sincronizados, um dentro de um avião e outro em solo, já comprovaram de fato esta distorção temporal. Einstein também descobriu que a velocidade da luz é a velocidade limite do universo. Nenhuma informação pode se deslocar mais rápido que os mais de 300 mil quilômetros por segundo cujos fótons – partículas que carregam a força eletromagnética, entre elas a luz visível – se deslocam por aí. Portanto, à medida que se aumenta a velocidade, a passagem do tempo passa cada vez mais lentamente. Ao atingir a velocidade da luz, o tempo enfim para por completo. Se estivesse em um trem a esta velocidade, ao olhar pela janela veria todo o universo em estado congelado, porque o tempo lá fora deixou de existir. Um dos efeitos interessantes do limite universal da velocidade da luz é que, qualquer evento que ocorra no universo, levará um tempo para chegar aqui, limitado pela velocidade da luz. Isso quer dizer, por exemplo, que se o sol desaparecesse num dia lindo de verão, levaria em torno de oito minutos não só para a escuridão nos atingir, como também para o planeta iniciar sua trajetória errática sem a gravidade do sol. Porque a gravidade também se desloca a esta velocidade.
Mais espantoso é a conclusão do físico alemão sobre o efeito gravitacional. Imagine-se em um carro parado que, de súbito, arranca e acelera continuamente. Você sentirá seu corpo pesar contra o banco, como uma força invisível que te empurra no sentido contrário de movimento do veículo. Einstein percebeu que este efeito é similar à força gravitacional. A gravidade é uma contínua aceleração que mantém nossos corpos presos ao chão. Se a gravidade pode assim ser interpretada, tal qual ocorre com objetos em movimento acelerado, o tempo passa mais lentamente próximo de centros gravitacionais. Quanto maior a massa do objeto, maior sua aceleração gravitacional e mais devagar o compasso do tempo. Quem vive no espaço, longe da atração gravitacional do planeta ou do sol, vive mais. Não por um efeito biológico, mas por uma condição natural das leis da física. Este efeito pode ter consequências bizarras, como mostrado no filme Interestelar, onde astronautas que visitavam um planeta perto de um buraco negro viviam um descompasso temporal imenso em relação àqueles que estavam em uma nave espacial afastada do efeito gravitacional brutal daquele monstro. Um buraco negro, uma pequena amostra do big bang, representa uma singularidade. Seu campo gravitacional dentro desta singularidade é infinito, o que captura todo tipo de radiação, incluindo a luz. Por isso, dentro de um buraco negro o tempo não existe. Na verdade, nem o espaço. O tecido do cosmos, que se curva na presença da massa, se alonga pontualmente de forma infinita, um buraco, na presença de uma massa infinita em um ponto mínimo. Esta deformação no espaço-tempo, o tecido do cosmos, na presença da massa dos corpos celestes é o que Einstein definiu como gravidade.
Tudo isso é apenas uma das pontas do iceberg da física, uma senhora de cem anos. E se causa estranheza o mundo natural ser constituído de uma malha espaço-temporal que se deforma com a gravidade ou a aceleração, imagina-se o que ainda está por descobrir. A realidade é mesmo muito mais estranha do que nossas maiores loucuras.
*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto
Interestelar para quem gosta de FISICA é um prato cheio,mas tem dialogos incriveis com frases lindas como essa”SE VOCE DESAPARECER(MORRER)AGORA O UNIVERSO SE DARA CONTA DISSO?”