Do blog Cabeça de Pedra
Os gorilas mataram o jornalista. Enforcado. Inventaram um suicídio e divulgaram a foto. O menino não entendeu como alguém pode se enforcar sem estar pendurado numa árvore, como nos filmes de faroeste que via. A imagem era de alguém quase sentado no chão e o pescoço amarrado por um pano preso a uma grade de janela. Ele não entendia bem o que estava acontecendo, mas atravessou um bloqueio que fizeram no Centro da cidade grande para evitar que muita gente fosse à missa pela morte daquele que foi trucidado. Dias depois, sem querer, o menino entrou numa passeata desfeita a bombas, patas de cavalos e cassetetes. Aquilo o despertou. Lia as notícias e começou a entender que havia uma força enorme achando que uma força pequena fosse alterar o destino de um país continental, como diziam nas aulas de geografia. Mais tarde compreendeu que os dois lados estavam loucos – e que nenhum país acaba por isso. Os gorilas ficaram por muito tempo tomando conta do zoológico. Depois foram embora e outros bichos se apoderaram do comando. O menino já estava com cabelos grisalhos quando muitos daqueles que eram da força pequena chegaram onde os gorilas e os outros loucos chegaram – e também enlouqueceram. Ele então desistiu. Fez sua trouxa e foi para o mato, sem cachorro – porque de cachorrada já estava farto.