de José Maria Correia
Sim,existe um suspiro triste.
O que surge de repente, do nada.
Geralmente ao crepúsculo ,no entardecer.
E quando se descobre que o amor partiu.
Surge à noite,à beira-mar, ouvindo as estrelas.
Vendo da janela a chuva caindo sobre
as pedras negras das calçadas.
Enquanto os cães noturnos abandonados dormem
às portas fechadas das igrejas,onde há
um Cristo crucificado e o terror da Via Sacra.
Surge ao não nos encontrarmos mais
na verdade fria dos espelhos.
E ao nos procurarmos olhando pra dentro
e depararmos apenas com um estranho
e a solidão do tempo e da alma.
É o suspiro triste, do silêncio.
Das saudades.
Dos horizontes perdidos e distantes.
E das angústias próximas.
Da folha de papel esquecida
rabiscada com secretos
versos da juventude
e um retrato antigo 3×4.
E um leve perfume de gardênia nas páginas
gastas do livro de Neruda na cabeceira.
Da luz esmaecida no lampião entre sombras.
E do longo apito do trem da madrugada
que parte sem rumo e sem destino
para não retornar nunca, jamais.
E que leva junto nossos corações
E as lembranças mais doídas.
Desaparecendo para sempre.
Enquanto ficamos condenados
a amanheceres infinitos, que chegam
como tigres, e nos acabamos.
De sonhos, paixões e perdas.
E suspiramos de amor, de tristeza.
E de desesperança e melancolia.
Lindo