por Zé da Silva
Só morrem quando nós morremos. Mas aí também não morremos, porque há os que vieram depois. Olho aqui um sorriso ao meu lado, no papel fotográfico, preto e branco com todas as cores. Há quatro. O dela e os dos meus três. Estão abraçados. O dela se abriu para uma lente, a da minha alma, porque estava com eles. Não sorria à toa. Tinha uma carinha triste. Depois descobri que provavelmente era para disfarçar e não irritar muito aquele que ela chamava de filhinho – o marido, pai, avô. Porque além da rapidez dos pensamentos, deixou a humorista em tempo integral que era. Das tiradas na lata, como aquela de olhar para alguma mulher rebolando na rua, aquelas de nádegas coladas, e dizer que tinha “cu abotoado”. Sim, uma boca santa assim liberou todos os descendentes para os palavrões como expressão forte para horas alegres, para explosões, para enfrentar qualquer um. O câncer jamais poderia acabar com algo assim. Ele apenas entregou uma passagem para ela se retirar de mansinho, calada, boquinha com os lados caídos – mas ficar. Para nunca morrer e aguardar os bisnetos e assim por diante. É assim para quem ama.