por Zé da Silva
Zé do Caixão não quer mais ser Zé do Caixão. Ele merece descanso, mesmo porque seu criador, José Mojica Marins, quase vai para o beleléu recentemente. Não foi. Zé do Caixão sobreviveu, para dizer que não quer mais ser chamado de Zé do Caixão. Quem tem, um dia teve medo de ver o Zé. Foi o meu caso. No tempo da tv em preto e branco ele tinha um programa na televisão que ia ao ar à meia-noite de sexta-feira. O medo se instalava antes, aflorava durante – e impregnava tudo depois. Mesmo porque eu assistia aquilo sozinho, grudado numa poltrona, coração aos pulos, sangue bombeado à toda ao ver, por exemplo, o sangue jorrando de um olho onde o Zé enfiou uma daquelas unhas gigantes. O medo me deixava acordado. O medo me fazia assistir. Era um desafio semanal que, no silêncio da madrugada, me apavorava ao ouvir qualquer barulho bobo daquela casa de subúrbio. Depois, tinha os pesadelos. E neles apareciam tarântulas, cobras, ratos. O Zé do Caixão é para sempre. Mostrou, entre outras coisas, que devemos ter muito mais receio dos que parecem normais, esses que nos traem, os enganadores, os falsos, os que ludibriam, os bonzinhos de fachada. Seria tão bom se o Zé pudesse empalar a todos…