Do blog Cabeça de Pedra
A princesa etíope flutua como Didi em campo aos olhos de Nelson Rodrigues. Ela é tão nobre que esqueceu a nobreza que tem. Ela sabe decifrar os mistérios da alma. Transforma tudo numa sequência de palavras que leva, a um mundo desconhecido, mas sentido, quem as lê. É sentimento, que pode ser encantamento e tormento. A princesa etíope tem dificuldade de decifrar o que chamam de real. É como se estivesse atravessando uma ponte, segura, mas que dá medo. Ela olha para os lados, para o alto – e se ilumina. Mas a ponte está ali, um vento a balança um pouco e ela não sabe se segue em frente, mesmo tendo os passos firmes e a altivez de uma princesa. Suas mãos com dedos compridos seguram onde há de se segurar. Mas por alguns momentos ela acha que aquilo também não é seguro. E o instante do próximo passo, isso é o que fica dentro dela, inquietando, num jogo que às vezes a dilacera, mas ao mesmo tempo a reforça. Porque ela é a princesa etíope, escolhida para isso, para comandar o seu próprio ser. Essa a descoberta que está fazendo. Para o passo. Que será apenas um passo, antes do outro e do outro e do outro. Então ela caminhará sem a ponte. Flutuando, feito Didi em campo.