por Igor Gielow
A sequência de derrotas da “superquarta” em Brasília empurrou o “terceiro governo” de Dilma Rousseff, inaugurado a partir da reforma ministerial da sexta passada (2), novamente para a beira do abismo político do qual tinha se afastado um pouco.
Se havia a expectativa de que prevaleceria racionalidade econômica de um Congresso apaziguado pela entrega ao PMDB e aliados de fatias expressivas do ministério na hora de avaliar os vetos à “pauta-bomba”, ela se desfez antes da hora do almoço.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), orquestrou oesvaziamento da sessão, flanqueando as ações dos novos responsáveis pela articulação política do Planalto, Ricardo Berzoini e Jaques Wagner. Ressalte-se que foi uma ação de Cunha, mas nem o PT ajudou o governo.
As más notícias continuaram com o STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitando a manobra do governo que buscava afastar o ministro Augusto Nardes da relatoria das contas da presidente em 2014, sob alegação de que ele havia antecipado seu voto contra Dilma.
O tiro de misericórdia veio com a histórica rejeição das contas numa sessão aguda e carregada de simbolismo político.
Com ou sem análise do Congresso do parecer, o pedido de impeachment apontando irresponsabilidade fiscal do governo agora ganhou embasamento técnico oficial.
O Planalto conseguiu piorar sua própria situação. Ao colocar o peso da área jurídica do governo para, na prática, carimbar a rejeição como política, o governo só conseguiu unir a corte contra si e “piscar”: mostrou que está jogando no desespero.
Se realmente seguir na linha de judicializar a questão, o governo apenas joga em favor do acirramento dos ânimos e arrisca-se a esgrimar inocuidades: politicamente, a batalha desta quarta está perdida.
A estratégia palaciana era de atrasar o andamento da rejeição no TCU na esperança de que ela se dessincronizasse do ritmo da análise dos pedidos de impeachment contra Dilma, na mão de Cunha.
Assim, poderia também torcer que o agravamento da situação do peemedebista, alvo de investigação pela Lava Jato e pelas autoridades da Suíça, tirasse gás de seu poder de articulação. Na mesma tarde começaram a surgir mais evidências complicando Cunha no caso das contas suíças, dificultando a vida de quem acredita em coincidências em Brasília.
Resta saber se os problemas de Cunha serão suficientes para mudar o passo da engrenagem acionada do impeachment, que avança em passos anunciados, como a rejeição dos pedidos e o recurso para levar o caso a plenário pela oposição.
Falta também ter claro se, caso o processo chegue a ser apreciado, o governo terá os 171 votos necessários na Câmara para impedir seu progresso. Como já foi entregue até o Ministério da Saúde para tentar garantir um apoio que não se materializou, a margem para o Planalto parece reduzida.
Além de contar com a derrocada acelerada de Cunha, Dilma precisará de auxílio em outras frentes, como no Senado capitaneado pelo oscilante Renan Calheiros (PMDB-AL). A quarta acaba num tom sombrio para o governo.