22:55Pé de pau

Do blog Cabeça de Pedra

Ele apontou o dedo para o outro lado da estrada de terra e disse que ia derrubar o pé de pau. O pé de pau era uma jaqueira que estava carregada. O filho, adulto, que estava ao lado, não entendeu direito aquilo, mas como nunca contestou o pai… Mas lembrou que, há muitos anos, quando esteve ali pela primeira vez, havia muita mata, muitos pássaros, muitos bichos. Então disse, incisivo, que não, que aquele pé de pau não iria ser cortado porque restavam poucos como ele na terra que um dia seria sua. O pai ficou quieto – e isso significava que dava razão. O pé de pau foi salvo e está lá até hoje. O que o salvador daquela árvore mais lembra, no entanto, é que a conversa toda foi feita na sombra de uma mangueira gigante, com mais de cem anos – e que ela foi cortada sem uma razão lógica pela tia, que cismou com isso e não teve ninguém para lhe dizer não.

Uma ideia sobre “Pé de pau

  1. Peter Zero

    Isso me fez lembrar uma poesia do Augusto dos Anjos
    A árvore da serra

    — As árvores, meu filho, não têm alma!
    E esta árvore me serve de empecilho…
    É preciso cortá-la, pois, meu filho,
    Para que eu tenha uma velhice calma!

    — Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
    Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
    Deus pôs almas nos cedros… no junquilho…
    Esta árvore, meu pai, possui minh’alma…

    — Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
    “Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
    E quando a árvore, olhando a pátria serra,

    Caiu aos golpes do machado bronco,
    O moço triste se abraçou com o tronco
    E nunca mais se levantou da terra!

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