por Luiz Claudio Cunha
No final de junho, no curto espaço de 60 horas, a presidente Dilma Rousseff trocou Brasília por Nova York e se manteve, impávida, nas largas fronteiras da escatologia.
Em Brasília, Dilma falou merda privadamente em uma tensa reunião na noite de sexta-feira, 26, na biblioteca do Palácio da Alvorada, reagindo com fúria ao depoimento do empresário Ricardo Pessoa, preso na Operação Lava Jato, que revelou ter doado R$ 7,5 milhões para a campanha do PT em 2014.
— Eu não vou pagar pela merda dos outros — avisou Dilma aos quatro homens que ouviam, em silêncio, a fétida alegoria presidencial: os ministros José Eduardo Cardoso (Justiça), Edinho Silva (Comunicação Social), Aloísio Mercadante (Casa Civil) e o assessor especial Giles Azevedo. — Não sou eu quem vai pagar por isso. Quem fez que pague — decretou ela, segundo o relato das repórteres Natuza Nery e Marina Dias, da Folha de S.Paulo.
Dilma disse e ainda pensou merda: — Zé, você não poderia ter pedido ao Teori [Zavascki] para aguardar quatro ou cinco dias para homologar a delação [do empreiteiro]? —, perguntou a presidente ao seu ministro da Justiça, como se fosse possível que alguém do Executivo interferisse nas ações e decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que conduz o processo da Lava Jato. Dilma estava especialmente irritada com a revelação feita horas antes da viagem oficial de cinco dias que faria a partir da manhã seguinte, sábado, 27, aos Estados Unidos, culminando com uma reunião de trabalho com Barack Obama.
— Isso é uma agenda nacional, Zé, e você f… a minha viagem — emendou Dilma no seu ameno jeito de ser.
Em Nova York, três dias depois, Dilma sujou-se publicamente, numa sala do elegante hotel Saint Regis, na Quinta Avenida, onde a presidente cumprimentou efusivamente Henry Kissinger. Mais do que um encontro de absoluta nulidade diplomática, a troca de sorrisos ecoou uma sonora bofetada histórica. A inutilidade vem do fato de que Kissinger hoje, aos 92 anos, não é nada, além de um lobista retirado.
DILMA-KISSINGER-OS-DELATORES-E-A-MERDA-6agosto2015-1
Zé: uma beleza este texto do Claudio Cunha. Saudades de tomar um chimarrão – no final da tarde, discutindo os fatos do dia. Um abração prá ele. Outro prá você.