9:14Um ano perdido

por Tostão

Neste mundo maluco, em que se vê de tudo na internet, de imagens belíssimas e educativas a chocantes e insignificantes, esperava que fossem vazados os vídeos, feitos pela CBF e pela confederação alemã, nos vestiários, nos momentos que antecederam o 7 a 1. Como não foram mostrados, posso imaginar.

Antes da palestra de Felipão, Parreira leu outra carta de Dona Lúcia. Para quem não sabe, foi a mulher que enviou uma mensagem de solidariedade e de agradecimento aos jogadores e à comissão técnica, após o 7 a 1, lida por Parreira, em entrevista coletiva. Nesta outra carta, a “santa” Dona Lúcia chamou os atletas e a comissão técnica de queridos e heróis e disse que estaria ao lado deles, na derrota e na vitória, na tristeza e na alegria.

Até hoje, ninguém ainda sabe se Dona Lúcia existe ou se foi uma criação infeliz da CBF, para ser um exemplo de condescendência com o fracasso.

Antes de Felipão, Marin disse aos atletas: “Além dos prêmios combinados, em euros, para ganhar hoje e na final, ofereço a todos e às suas famílias 30 dias de férias no mais luxuoso hotel de Zurique, à beira do lago, onde me hospedo com os membros da Fifa”.

Felipão começou a palestra repetindo que, em casa, é impossível o Brasil perder. Parreira acrescentou: “Estamos com as mãos na taça. A CBF e a Seleção são coisas que deram certo no Brasil”.

Felipão lembrou a estratégia: “Vamos pressionar, acuar os alemães, com uma linha de três atacantes [Bernard, Fred e Hulk], Oscar perto dos três e mais o apoio dos laterais. Luiz Gustavo fica mais atrás, quase como um terceiro zagueiro, para fazer a cobertura”.

Fernandinho, preocupado, perguntou: “Professor, não é perigoso eu ficar sozinho, no meio, contra os três alemães, que tocam muito bem a bola?” Felipão, com seu trejeito característico, respondeu: “Eles vão tremer e não vão sair da defesa”.

No outro vestiário, o técnico alemão Joachim Löw relembrou: “Vamos congestionar o meio-campo, com cinco jogadores [Kroos, Schweinsteiger, Khedira, além de Müller e Özil, pelos lados], ficar com a bola, trocar passes e avançar em bloco.”

A Alemanha, contra o Brasil, e o Chile, contra a Argentina, congestionaram o meio-campo, defenderam e atacaram em bloco, sem deixar espaço entre os setores.

Enquanto isso, Brasil e Argentina tinham um vazio no meio, pois jogaram com um volante, quase como um terceiro zagueiro (Luiz Gustavo e Mascherano), um meia ofensivo, próximo aos três da frente, quase um quarto atacante (Oscar e Pastore). No meio-campo, tinham apenas um jogador (Fernandinho e Biglia), ambos sem muito talento. A diferença é que a Alemanha tem muito mais qualidade individual que o Chile.

Para assimilar, conviver bem e renascer após uma tragédia, sem esquecê-la, é necessário, durante um tempo variável, refletir, vivenciar, com tristeza, a perda, o luto.

A CBF, com apoio da maioria dos treinadores brasileiros, fez o contrário, ao negar, ao não dar importância ao 7 a 1, como se fosse apenas um apagão. Um ano depois, o futebol brasileiro está no mesmo lugar, sem identidade, perdido.

Uma ideia sobre “Um ano perdido

  1. leandro

    Se pararmos para pensar veremos que não foi só um ano perdido no futebol, perdemos o ano na economia, na manutenção do novel de empregos, no custo de vida , enfim o ano de 2014 perdeu-se e o atual não temos esperança alguma de melhorar.

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