por Roberto Dias
Santos, 21 de agosto de 2005.
A Vila Belmiro se prepara para uma grande festa. Que nada tem a ver com o Figueirense, adversário do time da casa naquela tarde de domingo. Toda a badalação é para um garoto de 21 anos que está indo embora para a Europa, vendido por US$ 30 milhões para o estelar Real Madrid, comandado por Vanderlei Luxemburgo.
Poucas horas antes do jogo, no hotel Parque Balneário, onde a equipe se concentra, todos querem ver Robinho. Acompanhado de amigos santistas, eu acabo por entrar no andar onde estavam os jogadores, levado por ninguém menos que Dino Sani.
Ídolo no Brasil e na Itália, Dino Sani é daqueles personagens que encarnam várias passagens lendárias do futebol. Em um desses episódios, antes do terceiro jogo do Brasil na Copa de 1958, contra a União Soviética, ele se contundiu e cedeu o lugar no meio-campo a Zito. Com Zito, foram também escalados outros dois jogadores: Pelé e Garrincha. Nenhum deles sairia mais nem do time titular nem da história.
Pois naquela tarde Dino Sani estava em Santos reencontrando seu velho companheiro do Mundial da Suécia. Zito era um dos dirigentes do clube, respeitado pelo trabalho nas categorias de base, onde revelava gente como Robinho.
Os dois veteranos da Copa de 1958 conversavam numa rodinha num canto do hotel quando Robinho passou batido, entretido com alguma coisa –a memória não me entrega se ele falava ao celular ou ouvia música.
Foi naquele momento que entendi muito do que havia lido sobre Zito. Sua famosa capacidade de impor respeito, a autoridade que recebia do técnico para mudar o time dentro de campo, a fama de ser o homem com coragem para dar broncas em Pelé.
Ele chamou a atenção de Robinho, e a estrela do dia se dirigiu à rodinha. As palavras que se seguiram nunca mais saíram da minha cabeça. “Não vai cumprimentá-lo?”, Zito perguntou ao atacante, apontando Dino Sani. “Quem é ele?”, devolveu Robinho do alto da nuvem que parecia cercá-lo naquele dia. Zito respondeu demarcando o chão: “Ele é uma coisa que você não é e não sei se vai ser algum dia: campeão do mundo”.
Nos dez anos que se passaram desde aquele diálogo, Robinho jogou duas Copas do Mundo, sem chegar nem à semifinal.
*Publicado na Folha de S.Paulo