Da Folha.com
Fachin tem indicação aprovada pela CCJ com 20 votos
Após quase onze horas de sabatina –em sessão que durou mais de doze horas–, o advogado Luiz Edson Fachin, 57, teve sua indicação ao cargo de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado por 20 votos favoráveis e 7 contrários, na noite desta terça-feira (12).
Sua indicação, porém, ainda depende da aprovação no plenário do Senado, cuja votação secreta foi marcada para o próximo dia 19 pelo presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), contrariando vontade do governo de aprová-lo o mais rápido possível.
O placar na CCJ indica que a votação em plenário deve ser acirrada. Foi o maior número de votos contrários desde a indicação do ministro Ricardo Lewandowski, em 2006. Os ministros Rosa Weber e Dias Toffoli tiveram 3 votos contrários na CCJ em suas sabatinas.
Como são cinco integrantes do bloco de oposição na comissão, a votação indica que houve resistência também nos outros blocos, mais alinhados ao governo.
A sessão foi iniciada por volta das 10h, mas Fachin só começou a ser sabatinado às 11h30. As perguntas terminaram às 22h30, quando começou a votação. As cinco sabatinas anteriores de candidatos ao STF duraram menos de sete horas.
Equipe de gestão de crise auxilia o indicado
Ao menos três núcleos ajudaram a estruturar uma operação de resgate da imagem do professor indicado pela presidente Dilma Rousseff.
A empresa Medialogue, que trabalhou na campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB) em 2014, monitorou as menções a Fachin em redes sociais. Em outra ponta, houve a contratação de um designer da agência Pepper, que trabalhou para Dilma, para a criação de um site de defesa do advogado.
No centro das duas operações, a assessoria de imprensa de Samuel Figueiredo, a F7 Comunicação, assumiu as relações com a mídia e agregou ao time conselhos de especialistas em gestão de crise.
Parte do resultado desse trabalho foi visto na sabatina de Fachin na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, nesta terça (12).
Ele chegou à Casa ao lado da mulher, filhas e genro. Disse no início que se considerava um “sobrevivente” e respondeu às perguntas em tom monocórdio e afável. O objetivo era afastar a imagem disseminada por críticos de que se trata, na verdade, de um esquerdista vinculado ao PT que defende a poligamia.
A medição nas redes sociais mostrou há cerca de 15 dias que mais de 90% das menções a Fachin eram negativas e que, além da resistência política, havia um movimento negativo entre representantes de setores religiosos e ruralistas.
Um exemplo é um vídeo do pastor Silas Malafaia, que teve mais de 18,5 mil visualizações e vinha acompanhado de uma lista com os e-mails dos 81 senadores. “De uma vez só você manda para tudo que é senador: ‘Diga não a dr. Fachin no STF'”, orienta.
“Minha gente, a coisa tá feia”, diz Malafaia no vídeo. “Agora, a presidente Dilma indica o dr. Fachin, para ministro do STF. […] Esse cidadão defende a poligamia. […] O camarada tem ideia de comunista. É contra a família.”
Movimentos anti-Dilma também fizeram sua mobilização. Alguns senadores relataram terem recebido até 6.000 e-mails.
Fachin tentou minimizar o desgaste. Bateu em todos os gabinetes, com a fala mansa e um currículo encadernado debaixo do braço. Alguns não o receberam.