Do blog Cabeça de Pedra
Guardou todas as cadernetas escolares dos tempo do ginásio e colegial. Eram assim que os cursos se chamavam nos anos 60 e 70. Estudou em escola pública porque era pobre. Muitos anos depois foi olhar as notas daquelas matérias todas. Havia apenas um dez nos vários anos de estudo. Lembrou muito bem porque a professora de Geografia, por algum motivo, errou na avaliação da prova. A nota deveria ser bem menor. Mas ele ficou quieto – e nunca comemorou aquela glória. Havia notas vermelhas, abaixo de cinco, mas isso não interessava muito. O que lhe aguçou a alma foi ver as fotos 3×4 de identificação – e as mudanças que revelavam ano a ano. Do cabelo, da roupa que usava, do formato do rosto. Nunca sorriu par ao clique. Por isso os lábios finos um dia o fizeram ganhar o apelido de “boca de carteira”. Ele, velho, sorriu ao lembrar. Quarenta anos depois se considerou um menino bonito, não aquele monstro que se via no espelho e que não conseguia se declarar para a paixão do momento. Guardou tudo na pasta antiga. Deitou com ela apertada sobre o peito e dormiu. Tanto tempo…
Sensacional Bravo, bravíssimo!
poeta, o cabeça de pedra ficou emocionado e disse que ganhou o ano com o elogio. abraço. saúde.
Brincou bem com as palavras e com o que acontece com muitos de esquecem de viver e só se dão conta quando seu tempo está terminando.