Da AFP
Morre Günter Grass, Nobel de Literatura
O Prêmio Nobel de Literatura alemão Günter Grass, autor de obras como “O Tambor”, morreu nesta segunda-feira aos 87 anos, anunciou sua editora.
Homem de esquerda, polêmico, que nunca deixou de confrontar o país com seu passado nazista, Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século 20.
O presidente alemão Joachin Gauck ofereceu suas condolências à família do escritor e a sua viúva, Ute grass. “Günter Grass moveu os alemães, cativou-os e os fez refletir sobre sua literatura e sua arte”, afirmou Gauck em comunicado.
“Toca o tambor por ele, pequeno Oskar”, escreveu, em referência ao herói de “O Tambor”, um sucesso mundial que foi adaptado para o cinema por Volker Schloendorff e premiado com a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de filme em língua estrangeira.O escritor britânico Salman Rushdie expressou sua “tristeza”: “Era um verdadeiro gigante, um inspirador, um amigo”.
Quando a obra foi publicada em 1959, a revista “Der Spiegel” escreveu: “Deu origem, em um livro, à literatura alemã do pós-guerra”.
“Sem as intervenções incessantes de Grass no debate público, a Alemanha seria outra Alemanha”, completou a publicação.
Entre suas obras, escritas em uma linguagem exuberante, mas precisa, repletas de fantasia e de ironia, estão “A Ratazana”, “Passo de Caranguejo”, “Meu Século” e “Um Campo Vasto” (que provocou grande polêmica na Alemanha).
POLÊMICAS
Em 2012, Grass foi considerado “persona non grata” por Israel em virtude de um poema do autor, que descrevia o país como uma ameaça à paz mundial.
Os versos condenavam a venda de armas da Alemanha para Israel e se manifestavam contra a possibilidade de um ataque do Estado judeu contra o Irã. Na ocasião, o governo israelense proibiu o escritor de visitar o país “sua tentativa de exacerbar o ódio contra o Estado de Israel e do povo de Israel, e por tanto fomentar uma ideia com a qual esteve vinculado publicamente em seu passado com o uniforme das SS”, afirmou o então ministro do Interior, Eli Yishai, em comunicado.
O fato levantado pelo ministro israelense diz respeito a uma revelação de Grass, em 2006, na autobiografia “Descascando a Cebola”: ele assumiu ter integrado as forças de elite do exército nazista.
“Eu me mantive em silêncio. Porque tantos outros mantiveram o silêncio, a tentação é grande… De colocar a responsabilidade na culpa coletiva, ou falar de si mesmo apenas num sentido figurativo e terceira pessoa: ele foi, viu, disse, ele ficou quieto…”, escreveu o autor em “Descascando a Cebola”.