por Zé da Silva

era uma casa grande com um corredor ao lado um jardim na frente uma varanda vários cômodos mas não era a minha porque eu morava atrás numa meia-água de quarto e sala com uma cozinha que parecia um cubículo e onde meu irmão se queimou todo com água fervente mas isso é outra história porque quero contar da casa da frente separada por um quintalzinho onde estavam os banheiros e um poço de onde se tirava água para tudo e onde um dia pensaram que eu tinha caído porque me escondi embaixo de uma cama na casa grande com medo de uma mulher bonita que visitou a gente mas também não era isso que eu queria falar e sim do carrinho de rolimãs que eu mesmo fiz e descia pelo corredor do lado e fazia uma curva em volta do poço e um dia bati de frente e a ponta de um arame grosso que prendia a parte do carrinho onde eu dirigia entrou no meu saco mas não saiu sangue e depois eu soube que não atingiu os tais testículos só furou a pele e depois disso em cima do telhado da casa grande meu pai foi arrumar uma antena para que a televisão funcionasse e alguém acertou uma pedrada na testa dele e se fosse forte ele iria cair e morrer porque o telhado era muito alto mas eu não tive dó dele só vi ele bufando de raiva e a televisão ficou com imagem boa que era preto e branco mas eu não gostava muito e sim da rádio vitrola da casa grande porque ela tinha olho mágico e nela morava meus tios e meus primos que gostavam de todo tipo de música e até tocavam num conjunto de chorinho meu tio no afoxé e minha prima no pandeiro e eu lembrava disso tudo até o dia muitos anos depois que fui lá visitar as casas e dei de cara com um caixote de três andares e vários apartamentos mas o corredor do lado estava ali e juro que senti uma pontada no saco.