8:42A missão e o risco

Os nove procuradores da força tarefa do Ministério Público Federal responsáveis pela Operação Lava Jato que escrachou o Petrolão aparecem hoje em reportagem especial da Folha de S.Paulo. O trabalho que fizeram e fazem neste país de impunidade é um marco histórico, mas há o risco de os personagens ganharem mais destaque do que a missão – aí a dúvida é se, no fim, tudo vira fumaça e fica como está. Confiram:

Nove procuradores compõem força-tarefa que destrincha a Lava Jato

GRACILIANO ROCHA
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Um carro de luxo dado como presente desencadeou a investigação que já levou à cadeia três ex-diretores da Petrobras e executivos das maiores empreiteiras do país e à abertura de inquéritos contra três dezenas de congressistas da base aliada do governo Dilma Rousseff.

A Land Rover que Alberto Youssef deu ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi descoberta em uma interceptação telefônica, em 2013, no curso de uma investigação sobre doleiros no Paraná.

“Os americanos se vangloriam de terem prendido o Al Capone por causa do Imposto de Renda. Para mim, é de uma incompetência enorme só terem provado a sonegação. Da Land Rover puxamos um fio, com cuidado, que deu nisso tudo”, disse o procurador Carlos Fernando Lima, 50.

“Isso tudo” é a Operação Lava Jato : quase 500 pessoas e empresas sob investigação por crimes que envolvem ao menos R$ 2,1 bilhões e que escancarou suspeitas de corrupção na Petrobras.

Já foram recuperados R$ 500 milhões, principalmente de contas secretas no exterior, e um valor ainda não calculado de bens foi bloqueado: imóveis, hotéis, carros de luxo, helicóptero, aviões e obras de arte.

Com especializações e idades distintas, nove procuradores compõem a força-tarefa do Ministério Público Federal que há um ano destrincha o escândalo. O núcleo duro é formado pelo coordenador Deltan Dallagnol, 34, Orlando Martello Jr., 45, Januário Paludo, 49, e Lima.

Editoria de Arte/Folhapress

São todos oriundos do chamado grupo dos “tuiuiús”, a oposição ao então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, no governo FHC. A ave pantaneira é conhecida pela dificuldade para decolar. Brindeiro, à época, era chamado de engavetador-geral da República.

Os quatro são veteranos do caso Banestado, investigação sobre lavagem de dinheiro e evasão de divisas que movimentou R$ 30 bilhões nos anos 1990. Do Banestado saiu o DNA do atual modelo de delação premiada (15 até agora).

O cérebro por trás da estratégia é Lima. Bom negociador, ele tem sangue frio para blefar, dizem advogados.

“No começo, lançamos um grande 171: espalhar que já tinha gente na fila para colaborar, deixamos as pessoas saberem que já tinha uma pessoa ou empresa interessada, mas a gente ainda não tinha nada. Aí começaram a bater na nossa porta”, contou.

Advogados criticam a manutenção das prisões, segundo eles um meio de induzir os suspeitos à delação premiada. E dizem que ministros de tribunais superiores rejeitaram habeas corpus devido à pressão da opinião pública.

O bunker do Ministério Público ocupa o 7º e o 8º andar do edifício Patriarca, no centro de Curitiba, em frente à sede da Procuradoria. Os dois pisos foram alugados por causa da imensa massa de documentos da investigação.

Ao todo, cerca de 40 pessoas trabalham por lá. Há um assessor e um estagiário para cada procurador e peritos e seguranças que controlam o acesso ao bunker.

Procuradores trabalham em duplas. Às vésperas da Semana Santa, os dois andares do Patriarca ferviam de atividade. Um dos procuradores dava expediente mesmo em licença-paternidade.

Os procuradores revelam dois grandes temores. “Se houver a soltura de réus agora, muitos deles com dinheiro sujo escondido no exterior, esses processos podem ser atrasados por dez, quinze anos”, disse Dallagnol, expressando um deles.

Outro foco de desconfiança são os acordos de leniência negociados entre empreiteiras e a CGU (Controladoria-Geral da União). O governo afirma querer evitar a paralisação das obras. Mas o temor é que esses acordos sirvam para silenciar delatores.

“A CGU foi feita para controlar corrupção de funcionários públicos, não para ser a salvadora do emprego. Se o governo quer criar um Proer, que faça no lugar certo, que é o Congresso”, afirmou Lima.

2 ideias sobre “A missão e o risco

  1. Sergio Silvestre

    No caso Banestado foram 30 bilhões e deu no que deu,muitos gastaram o dinheiro cantando NEW YORK,NEW YORK descendo o Hudson,outros ainda estão políticos influentes e o dinheiro babau.
    Duro saber se toda esse ellan dos que estão investigando arrefece caso outro grupo tome o poder.Estamos no Brasil né.

  2. Professor Xavier

    Como sou mais velho que todos estes procuradores, e, já perdi a fé tanto no Papai Noel quanto na Branca de Neve, acredito que tudo isto vai acabar como sempre acaba, entre mortos e feridos vão salvar-se todos. Sou descrente quanto à punições em Pindorama, não se esqueçam, Pindorama é a terra de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Não sou cínico como o Filósofo, sou realista.

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