Do blog Cabeça de Pedra
Não gostava de drogas alucinógenas. Na verdade, tinha medo. Leu tanto sobre viagens sem volta durante aqueles anos de paz, amor e napalm na cabeça dos vietcongs, que evitava. Tomava os goles, fumava um e o máximo de doideira que fez foi misturar macarrão, feijão gelado e salada de maionese para acalmar a larica numa madrugada de fumacê. Um dia apareceu um selo de ácido numa viagem ao litoral. Ele resolveu experimentar, mesmo lembrando dos trechos delirantes dos livros de Carlos Castañeda e do bruxo Don Juan que acabara de ler. Guardou a mercadoria, voltou para a cidade grande e, na casa de uma prima, onde parou para dormir, aconteceu. Tomou o LSD e ficou esperando algo que, na sua imaginação, com o passar do tempo, não veio. No meio da madrugada, sem dormir, foi para a cozinha, abriu a geladeira, pegou as duas dúzias de ovos que ali estavam e explodiu-os no teto para ver o efeito. Só então caiu no sono. Quando acordou estavam limpando tudo. Ninguém lhe perguntou nada. Ele viu as manchas amarelas que pairavam sobre a cabeça de todos. Eram as marcas de sua única viagem.