por Yuri Vasconcelos Silva
Por onde anda o silêncio perdido, aquela ausência do barulho artificial? Os apartamentos, estas casas sobre casas, não conseguem barrar o som que vem através de lajes ou paredes e, mesmo que pudessem, o ruído é maleável como uma onda. A tudo contorna para entrar pela janela, junto com a brisa. Se prefere morar numa casa com grande quintal, a sirene histérica de alguma emergência lembra ao morador que ele ainda está na cidade. No carro, logo que gira a chave, os dedos impacientes buscam pela música ou notícia do rádio. Escapamentos rasgados estouram o som do motor da motocicleta que faz acrobacias para chegar primeiro a lugar algum. Apitos de guardas, discussões em bares. Italianos conversando, um na sacada e outro no passeio. Uma ferrovia que corta a cidade no meio, com seu indefectível apito da mesma hora. O latido interminável misturado à esperança ansiosa de que o bicho vai se aquietar em breve, numa madrugada fria de lua cheia. A fúria de tantos sons parece incomodar e por vezes levar o sujeito ao limite. Mas a verdade é que poucos se sentem confortáveis com o silêncio. Está aí o sucesso da Sony e posteriormente da Apple com seus tocadores pessoais de música. Os celulares sinalizam “n” categorias de ruídos diferentes, para indicar alarmes, compromissos, postagens, e-mails, falhas, sucessos. Todos estão tão acostumados ao som que vem de fora, que é temeroso ficar imerso no mais absoluto silêncio. Isso porque se descobre que o corpo e a mente têm uma sinfonia própria e ensandecida. Estes sons colocam um medo danado na maioria das pessoas. Especialmente os que sussurram – alguns gritam – na cachola. Ainda assim não deve se deixar levar pelo som que vem de dentro. Sem ter medo ou qualquer expectativa, apenas observar as várias vozes revela que elas surgem e morrem como bolhas. Algumas são insistentes e surgem, reaparecem e tornam a voltar. No meio delas, entre o surgir de um som e outro, há um silêncio genuíno. Concentrar-se neste intervalo por algum tempo pode ser revelador. Ou percebe-se que todos os ruídos da vida são tão insubstanciais quanto o sonho, ou escuta-se o próprio batimento cardíaco, o som mais básico da vida.
*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto