7:09Reflexo das escolhas

Foi só os gênios de plantão em Brasília começarem a falar que não vai haver terceiro turno da eleição e o lado dos que hoje sairão às ruas, para protestar contra o estado em que se encontra o país, passarem a encarar este dia como se fosse, sim, um dia de votação – algo como um plebiscito cujo resultado todos sabem. Se falam em golpe, o que é uma besteira tão grande quanto aquela minoria fora da casinha que pede a volta dos militares ao poder, a resposta natural que vai se ouvir nas ruas, seja lá quantos forem protestar, seja ele do povo que mora nas coberturas ou nas franjas da periferia, será recordar o engodo da campanha para reeleição da presidente Dilma Rousseff, que vendeu um país quebrado como se tudo estivesse na mais perfeita ordem. E a paisagem de fundo será a série de escândalos, a roubalheira que já produziu o Mensalão, com personagens do alto escalão do partido que comanda o país presos, e agora destrói a imagem da Petrobras e confirma aquilo que sempre se pensou das grandes empreiteiras, todos atoladas no propinoduto que abastece caixas de partidos e políticos. A tentativa de defesa dos que estão no poder ao afirmar que isso sempre aconteceu é a mesma utilizada no auge do incêndio do mensalão, quando o então presidente Lula afirmou que todo mundo utilizava Caixa 2. Correto, mas aí outra bomba explode no colo: qual agremiação política chegou ao poder, e se mantém nele há doze anos, vendendo a imagem da honestidade e abrindo um horizonte de esperança para quem sempre soube que nunca houve mocinhos comandando o país? Ninguém nega que houve um grande avanço social nos governos do PT, mas também se pergunta se o Bolsa Família, por exemplo, não é um programa cuja finalidade é eleitoreira com custo altíssimo pago por toda a sociedade, enquanto o sistema de atendimento à saúde está na miséria e continuam inexistentes as oportunidades de trabalho para quem tem vergonha e não gostaria de se viciar com esmola oficial, como diz a letra da música. Como numa partida de futebol, ninguém sabe o que vai acontecer hoje. Na sexta-feira os partidários do governo, organizados pelas centrais sindicais, foram às ruas para dar apoio a Dilma e defender a Petrobras. Falar em impeachment da presidente é dar tiro sem sentido no escuro. Talvez o que toda essa movimentação consiga é acordar os que estão na direção do país e fazê-los ver o mundo real, que beira perigosamente a uma crise institucional cujo desfecho é imprevisível. Tudo, no entanto, faz parte do aprendizado que a democracia nos proporciona. O país, como se vê, engatinha nestes trinta anos desde o fim da ditadura militar – mas ainda carrega os erros de sempre. O povo, no entanto, parece ter dado conta de que o país é reflexo de suas escolhas.

2 ideias sobre “Reflexo das escolhas

  1. Sergio Silvestre

    Não seria melhor esse povo que sai hoje para protestar parar de comprar fiado e trabalhar mais.
    Tem gente que está em ferias permanente reclamando do preço do dólar mas não sai de Miami.

  2. Thiago Hart

    A revolta é tb saber que muitos – não todos – dos projetos sociais são populistas e não resolvem verdadeiramente os problemas O Bolsa Família é necessário? É sim. Só que é um programa que isolado apenas administra a pobreza, não a supera.

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