por Zé da Silva

Aquário

Havia um retângulo pequeno de terra onde ela fez o jardim na frente da casa de quarto, sala, cozinha e banheiro minúsculos. Era seu divertimento cuidar das plantas, acompanhar o nascer das flores. O marido saía cedo para o trabalho duro da oficina. Era um tosco, mas foi o único que se interessou por ela. Casaram e foram para aquela casinha na periferia da cidade grande. Ele já invocou quando ela limpou aquele pedacinho de terra e tratou-o com carinho. Mas o marido não era de falar muito – apenas fazia uma cara feia. Um dia disse que não gostava daquela frescura e que ela procurasse outra coisa para fazer em casa enquanto ele não voltava. Ela fez de conta que não ouviu. Aí, aconteceu. Ela, querendo amansar o bruto, quis lhe dar uma flor daquele jardim,  no dia em que completavam um ano de casamento. O tapa fez a rosa acertar a imagem do Cristo crucificado na parede da sala. No dia seguinte ela acordou com o barulho dele arrancando todas as plantas. Depois acompanhou todo o trabalho que teve para cimentar aquele que era seu jardim do paraíso. Ela chorou. Ficou no quarto por vários dias. Fugiu para a casa da mãe e só retornou dois meses depois. Ao atravessar o portão, a surpresa. Havia uma rachadura no piso e uma planta tinha brotado. Abriu um sorriso. Achou que o marido não tinha arrancado porque estava com saudade.