por Célio Heitor Guimarães
Não imagino em quem tenha se espelhado o menino Beto Richa para governar o Paraná. De uma coisa, porém, tenho certeza: no pai dele, não foi. Por falta de inteligência ou de capacidade. Tivesse seguido o exemplo do velho José, não teria levado a administração pública estadual ao abismo que levou.
José Richa foi provavelmente o governador mais democrata que o Paraná já teve. Era um democrata e um conciliador, sem que isso lhe dificultasse a caminhada. Sabia liderar sem ostentação e conquistar o eleitor com simpatia e resultado. Os seus defeitos foram sobrepujados pelas suas virtudes – algumas delas há muito tempo banidas do Centro Cívico.
Richa assumiu o governo numa época difícil. A ditadura já se encontrava na UTI, desenganada, mas os Estados ainda sofriam os danosos efeitos da lei do tacão que os transformara em feudos de Brasília e os seus governadores em capitães-mores, mais vassalos da corte do que capitães. Pois José Richa chegou pacificando o Paraná. Fez um inventário da situação administrativa que encontrara e, em seguida, foi à televisão, prestar contas ao povo.
A população ficou surpresa. Não estava acostumada a receber satisfações dos governantes. Deles, tanto na esfera federal quanto estadual, em regra recebia apenas ordens e sustos. Pessoalmente, confesso que me emocionei. Tive ímpeto de telegrafar ao governador (naquele tempo se telegrafava ou escrevia, jovem leitor, pois não havia fax nem e-mail e muito menos ipads e coisas que tal. E telefonar seria muita audácia), cumprimentando-o pela iniciativa. Pieguice? Talvez, para quem não viveu os anos de chumbo da política nacional. No entanto, a minha condição de funcionário público, em atividade na época, fez-me mudar de ideia. Mas José Richa conquistou ali a minha admiração. E a sua administração, que foi serena, positiva e fecunda, não decepcionou o eleitor paranaense.
Ao contrário, o povo foi sempre tratado com respeito, a mesma consideração que o governo dispensou aos servidores do Estado, os quais valorizou como ninguém, particularmente os professores, tradicionalmente tão maltratados. Nem por isso as despesas com pessoal ultrapassaram a casa dos 50%. As contas do Estado, aliás, foram mantidas rigorosamente em dia, com o pagamento, inclusive, de alguns precatórios de elevada monta; a máquina arrecadadora nunca foi tão eficiente e os órgãos públicos tão prestigiados e dinamizados; a harmonia entre os Poderes era absoluta; nenhum escândalo foi embalado no Iguaçu; e a oposição, na impossibilidade de imputar ao governador o cometimento de atos de desídia ou improbidade, costumava apenas chamá-lo de indolente e acusá-lo de gostar de uma partida de tranca. Ou de ter sido discípulo do ex-governador Ney Braga.
Quando chegava a hora de corrigir os salários do funcionalismo, Zé Richa fazia algo inédito e surpreendente, que nunca mais foi feito por nenhum de seus sucessores: reunia no palácio representantes da categoria, dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para um debate aberto com os secretários Erasmo Garanhão, da Fazenda, e Belmiro Castor, depois Otto Bracarense, do Planejamento. A conversa era franca, em alto nível, de igual para igual, com bom resultado para governo e servidores.
Quantas secretarias tinha o governo de José Richa? Nove ou dez, no máximo. Quantas tem hoje o governo do filho dele, o moçoilo Beto? Vinte e sete, considerando que as chefias de Gabinete, das casas Civil e Militar e de Cerimonial ganharam status de secretarias e que foram criadas (ou mantidas) as estranhas secretarias de Controle Interno (?!), de Relações com a Comunidade (?!), de Corregedoria e Ouvidoria Geral (?!) e para Assuntos Estratégicos de Governo (?!). Seriam 28, não tivesse passado a Copa. Uma tropeçando na outra, com atribuições repetidas, prestando-se, na verdade, apenas para acomodar correligionários, apaniguados e derrotados eleitoralmente.
O Estado precisa reduzir despesas, cortar custos, enquadrar-se na Lei de Responsabilidade Fiscal? Por que o diligente governador não começa por reduzir o número de secretarias? E por fazer o secretariado trabalhar. No governo do seu pai, secretário do Planejamento planejava, secretário da Fazenda não ficava plantado no gabinete idealizando maldades contra o funcionalismo público (era comum ver Erasmo Garanhão, em pessoa, na Ponte da Amizade, coordenando a fiscalização na fronteira e fomentando a arrecadação), e o secretário Mussi, da Segurança Pública, nunca precisou dar amparo a deputados, conduzindo-os em um camburão da Polícia Militar. Tinha coisas mais importantes para fazer. Bons tempos aqueles!
Nunca entendi bem porque José Richa resolveu deixar, tão prematuramente, a vida pública. Problemas de saúde, talvez. Desencanto, muito provavelmente, já que o eleitor paranaense não quis reelegê-lo governador em 1990. Oriundo do PDC, com passagem pelo MDB/PMDB, ele foi um dos fundadores do PSDB, daquele original, de Franco Montoro, Mário Covas, Artur da Távola e do antigo FHC. Era ouvido e respeitado nacionalmente. De repente, decidiu abandonar tudo. Recolheu-se à atividade privada e calou o bico. Não sei o que estaria achando hoje do governo do pequeno Beto e do irmão deste, José Júnior – czar da infraestrutura e logística (?!) –, se vivo fosse. Mas duvido muito que o aprovasse.
José Richa pegou nojo e largou a política. O que deu nojo no pai abriu o apetite do filho…
O Paraná vinha de duas grandes administrações de Paulo Pimentel e Jaime Canet,passando depois para o ultimo respiro da arena que foi Ney Braga.
Richa pegou um estado com uma malha rodovia ria de fazer inveja,seus antecessores foram grandes administradores e ai com o prato feito,fez um tunguete no seu avião e era chamado de turco lento até pela genética hoje do filho de não gostar muito de trabalhar.
Ele era bom de conversa,até parece que o filho embarcou nessa de “respeito e dialogo” que o paranaense parece que não engoliu muito nessa sua segunda gestão,mas esse lero era do velho Richa que gostava mais de uma boa conversa do que fazer obras e trabalhar duro.
Depois que morrem tudo fica tranquilo,colocam nome em pontes aeroportos etc,fica lembrado pelos saudosistas,mas eu não caio nessa não e é bom que os paranaenses ao menos se lembram do José Richa em alguma obra que fez no Parana. Alguém se lembra?Eu não me lembro de nenhuma como governador.
Teve uma grande gestão como prefeito de Londrina por causa do seu braço direito o Dr Wilson Moreira que praticamente tocou a cidade.
pô, silvestre, você tinha que achar um jeito de chegar aos governos do requião para elogiar. até parece que esqueceu o seu líder, assim como ele apagou da memória o governo da venezuela e a revolução bolivariana. hihihihihihihihihihihi
A resposta talvez seja simples.
O fato: Durante os governos militares, os cargos de gestão, tanto federais como estaduais, eram ocupados por pessoas escolhidas por competência técnica e sem muita pressão política, os militares não precisavam de balcões para negociar a governabilidade e as hierarquias dos diversos escalões tinham técnicos especializados nas funções.
Já no governo de José Richa, o primeiro tido por eleição direta, os cargos técnicos do governo do estado começaram e ser loteados pelo partido/MDB para pessoas com diferentes filosofias políticas e sem muito compromisso com a gestão técnica, muitos anistiados políticos vieram ocupar cargos comissionados e “trabalhar” em funções publicas e respondendo autoritariamente e com perseguições aos técnicos efetivos do governo, assim como, muitos camaleões mostraram sua verdadeira cor participando posteriormente na criação de seus partidos ideológicos .
O governo Richa é lembrado por que foi na transição de regime político e foi obrigado a aceitar certas condições que plantaram a semente que priorizou a gestão da política social em detrimento à técnica e o Paraná naquela época, oposição ao governo militar/federal começou a andar na contramão de Brasília deixando de receber repasses para execução de serviços conveniados com o governo federal, mas o Paraná assim mesmo, sem apoio da viúva, ainda sobrevive, na UTI.
O que precisamos: De uma bancada de políticos paranaenses honestos, corajosos , competentes, desinibidos de timidez . e quando alguns desses deixarem de ser frouxos e inimigos do rico estado do Paraná não seremos mais desfenestrado por Brasília, receberemos tudo que nos é de direito e talvez muito mais, como alguns estados pobres da federação.
HIhihi – Silvestre, aprovo teu comentário, é como eu penso e pela primeira vez concordo com você.
A única obra que me lembro de JR foi a eletrificação rural.
Buenas! Em que pese o respeito pelo grande Richa: o Paraná teve um graaande administrador oriundo da ditadura: Jayme Canet Jr. Nos idos de 76/78, foram assinados alguns convênios com o BID e BIRD, A FUNDO PERDIDO (o estado não teria contrapartida), por 30 e 35 anos, recursos esses que acabaram agorinha, há pouco, na gestão anterior desse moço. Esses convênios “originaram” o PRORURAL, o PRAM, a implantação da METRONOR e outros voltados para a fixação do homem ao campo, assim como o recapeamento das estradas vicinais e asfaltamento do corredor principal, programas habitacionais, saneamento básico, eletrificação urbana e rural, unidades de saúde, reurbanização das cidades do interior (saudosa SEIN!), construção de escolas rurais e de pequeno porte, etc., etc., etc. A arrecadação do ICMS, à época, era somente para pagamento de pouquíssimos servidores e da manutenção de 12 secretarias e algumas vinculadas (ainda estávamos implementando a reforma administrativa do Estado). José Richa pegou o bonde andando e se beneficiou dos atos dos inimigos da democracia. Depois dele, Álvaro Dias. Depois desse, alguma coisa do Lerner; o resto foi na corrente. Agora que o dindim acabou, o que fazer? Corrigir tudo o que foi feito de errado no governo desse moço (e talvez alguma coisa do anterior). Querem exemplos?: comparem as tabelas do funcionalismo e dos cargos em comissão de quando ele entrou e agora: os índices de IPCA do governo do Paraná são beeeem diferentes do Governo Federal. Constituição e leis são para serem albergadas no coração do homem público. Não é o que acontece.
O Betinho disse que queria ser governador do estado. Nunca disse que iria GOVERNAR o estado.
As opiniões estão ótimas. Que me lembro, o Paraná teve uma série de bons governadores como o Ney Braga ( no primeiro governo ) o Paulo Pimentel , Prof. Parigot, não citado nos comentários e o Jaym Canet Júnior. Com eles o Paraná se desenvolveu, progrediu.
Depois desses anos o que tivemos : o Paraná em 32 anos, pasmem 32 anos, governado por 3 famílias :
Requião 12 anos…. UFA
Lerner 8 anos…
Richa , 4 do José e mais 8 do filhote, totalizando 12 anos.
O Paraná em 32 anos foi governado pelos mesmos.
E o que é pior, sem ter nenhum pretendente capacitado para 2018.
SOMOS MESMO A QUINTA COMARCA.
O Grande governador do Parana ,mas é pouco lembrado foi Jaime Canet Junior,enfrentou a piór geada da historia dizimando os cafezais mas honrou o Pararná e sem duvida e sem muita pirotecnia fez para uns cinco governos destes ai em 4 anos,depois apoiou o José Richa o lerdo.
Na letra da música “José” – que certamente inspirou o belo texto do CHG – o filho não seguiu os passos do pai… na letra, o filho tinha estranhas idéias que faziam sua mãe chorar… Como diz Zé Beto: “pode ser tudo, pode ser nada”.
Para quem não conhece, a música é “José”. Fez sucesso nos anos 70 na voz de Rita Lee e os Mutantes.