por Zé da Silva
Por que nos abandonamos em cada cruz? A pergunta da música foi como prego martelado em sua mente. Ela voltava sempre carregada de lágrimas deflagradas com as notícias inesperadas. Assim foi com o pai, a mãe, assim tem sido com amigos da estrada. Tiros de misericórdia disparados na luta entre anjos do bem e do mal. Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai. O coração dele estava virando pudim – justo ele que já foi pedra dura. Passou anos beijando o desconhecido, chutando o pote do arco-iris, praguejando contra a luz da vida – e sobreviveu para ir enterrando os seus queridos. Se pudesse cravava no coração a estaca que mata vampiro. Faria isso para dar mais tempo aos que precisam. Ele? Ele sofre ao carregar esta sina de ter sobrevivido e de ser abandonado em cada cruz.