18:24HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Virgem

Pisou no espinho da roseira que estava no galho caído no gramado. Descalço, não sentiu dor, mas uma vertigem que nunca conseguiu explicar, mesmo porque não contou para ninguém. Não houve alteração alguma na paisagem. Era um jardim pequeno na frente de uma casa de padrão médio num bairro de classe idem. Mas ele se sentiu como o mais grato dos seres e a alma, o corpo, a mente pareciam ter sido varridas das impurezas. O primeiro pensamento que veio foi o de que o espinho era Deus, na concepção mais benévola e clara. E que poder! O filme da vida, aquele que dizem passar a poucos instantes da morte, voou rápido na cabeça – mas editado e só com as partes boas. Recordou os filhos pequenos, coisa que tinha dificuldade – e viu que foram felizes. O tempo com os pais, curtos, mas de grande aprendizado, mesmo sem falas, só com lições passadas pelos comportamentos. Havia amor em tudo. Ele temeu tirar o espinho da sola do pé, mas ele saiu sozinho. Descobriu que o que tinha de ficar, ficou, para o equilíbrio com o outro lado que sempre vai existir. Foi aí que viu cocô da cadela, bem ali ao lado. Evitou pisar. E riu de si mesmo.

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