por Janio de Freitas
Olhar para aqueles chefes nacionais apenas pelo que são, sem os relacionar ao simbolismo pretendido de suas insípidas presenças na manifestação parisiense, proporciona uma visão da orientação atual do mundo: desordem e hipocrisia como normas globais.
Dos 25 presidentes e primeiros-ministros na primeira fila, não preenchem cinco dedos os que estejam isentos de envolvimento com algum tipo de violência grave, não sejam coautores da difícil situação do seu país, e não sejam suspeitos de estar ali menos por sinceridade do que por proveito político e eleitoral. Neste caso incluído o próprio e patético presidente francês François Hollande.
Olhar para aqueles chefes nacionais é ter a percepção antecipada do insucesso a que estão fadadas, por longo tempo, as medidas que essa gente aprove contra as aflições do mundo. Com poucas exceções, os presentes ali se dividem entre os que ganham com venda de armas e os que compram armas para aparentar progresso e segurança em seus países. Quando não para oprimir povos mais fracos.
A esperança fica restrita à possível mobilização da inteligência para confrontar análises e propostas, que muitas vezes têm deixado sementes afinal colhidas por poderes como a ONU e a União Europeia. É assim mesmo, como incentivo, que se explica a existência da primeira, como, mais ainda, a da segunda dessas instituições.
*Publicado na Folha de S.Paulo