por Célio Heitor Guimarães
Um dos mais importantes romances da literatura brasileira acaba de chegar aos quadrinhos, em edição de luxo, dedicada a colecionadores de bom poder aquisitivo. “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, ganhou versão quadrinizada de fino trato, com tiragem numerada, limitada a 7 mil exemplares, e custo de R$ 199,90 o exemplar. A exclusividade de venda dessa edição é da Livraria Cultura (em Curitiba, no Shopping Curitiba).
O projeto é ambicioso, impresso em papel offset 180 gramas, no formato 21 x 28cm, com 180 páginas, edição costurada artesanalmente, com lombada solta, embalada em caixa de acetato vermelho. Uma nova versão, menos luxuosa, poderá ser lançada futuramente.
A história é conhecida: Riobaldo recebe em sua fazenda um visitante, a quem conta a sua história. Suas memórias vão desde a infância até as reviravoltas do destino que o transformaram em um jagunço. Riobaldo envolve-se, então, com o pacificador Zé Bebelo, encontra e apega-se a Diadorim, “galante moço, as feições finais caprichadas”, e com ele cruza a vastidão do sertão, em meio às acirradas disputas entre os bandos de Joca Ramiro, “um chefe cursado”, e Hermógenes, “homem sem anjo-da-guarda”, por riqueza e vingança.
Para recontá-la, a Editora Globo convocou o escritor e cineasta Eloar Guazzelli e o desenhista Rodrigo Rosa, ambos gaúchos, o primeiro de Vacaria e o segundo de Porto Alegre. E a eles fez apenas uma recomendação: preservar o texto original do grande Rosa. Guazzalli e Rosa não decepcionaram, cientes da diferença da linguagem dos quadrinhos. “Quando alguma modificação foi inevitável” – observam os editores –, “isso se deu sempre de forma menos intrusiva, evitando, por exemplo, a inserção de palavras, a transformação do texto narrativo em diálogo ou a modificação de tempos verbais, recursos frequentes em adaptações”.
Eloar Guazzelli Filho, licenciado em educação artística e bacharel em desenho pela UFRS, foi premiado nos festivais de cinema de Havana, Gramado, Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão e Brasília, além de prêmios recebidos nos salões de humor de Porto Alegre, Cintra, Piracicaba, Teerã, Tóquio, Teresina, Santos, Rio e Belo Horizonte. Também foi o grande vencedor do III Concurso Folha de Ilustração e Humor (2006).
Guazzelli compara a estrutura de “Grande Sertão…” à de “Dom Quixote”, com “uma historia dentro da história dentro da história…”. E confessa que a adaptação foi um trabalho braçal enorme.
Já Rodrigo Rosa, além de ilustrador, cartunista, quadrinista e jornalista, é pós-graduado em ilustração de literatura infanto-juvenil na Escola de Diseño y Arte de Barcelona. É autor das adaptações de “Os Sertões”, “A Luta”, “Kardec”, “Dom Casmurro”, e “O Cortiço”. Recebeu mais de vinte prêmios em salões de humor no Brasil e no exterior.
Rodrigo confessa que uma das coisas mais difíceis de desenhar no trabalho foi a ambiguidade de Diadorim. Por isso, buscou um traço andrógino para o jagunço, depois de seis versões diferentes.
Quem conhece sabe que o original de Guimarães Rosa, datado de 1956, não é leitura fácil. A novela-gráfica de Guazzelli e do outro Rosa, mesmo respeitando a complexidade da obra, conseguiu dar-lhe alguma simplificação. Sem ferir-lhe a essência, explorou com maestria os contrastes do sertão roseano, oferecendo ritmo cinematográfico à ação. Recomendação merecida.