7:49Desgraça maior que o 7 a 1 é a desesperança

por Tostão

Houve vários motivos para o fracasso da seleção brasileira na Copa. Parreira e Felipão, com declarações ufanistas, do tipo “é uma obrigação ganhar o Mundial” e “o Brasil está com uma mão na taça”, estimularam ainda mais o excesso de confiança e a ilusão de que, em casa, era impossível perder. Felipão achou que bastaria repetir o que foi feito na Copa das Confederações.

A presença de apenas um jogador brasileiro, Neymar, na lista dos 23 melhores do mundo, uma repetição das eleições anteriores, é mais uma evidência de que temos um grande número de bons e excelentes jogadores, exportados para todo o mundo, mas que são raríssimos os especiais, os foras de série. São estes que ganham a Copa.

O Brasil, por ser imenso, pela tradição de tantos títulos conquistados, por ter milhares de crianças sonhando em serem craques -em vez de estudarem em boas escolas públicas com horário integral- deveria formar muito mais foras de série.

As boas atuações e vitórias da seleção atual, com Dunga, assim como tinha acontecido com Felipão, antes do Mundial, mostram que o 7 a 1 foi um exagero, um desastre. Mas foi também uma mensagem, que a maioria não quer entender, de que o futebol brasileiro possui graves problemas, dentro e fora de campo. Em vez de vivenciar o luto e de buscar mudanças, preferem ignorar o 7 a 1, como se fosse apenas um apagão.

É preciso também separar a seleção do futebol brasileiro. Mesmo com inúmeras deficiências, não é difícil formar uma boa seleção, ganhar muitos títulos, e até o próximo Mundial, com os excelentes jogadores espalhados por todo o mundo. O problema maior é o futebol que se joga no Brasil, de pouca qualidade em relação aos grandes campeonatos nacionais da Europa, além do péssimo calendário e da promiscuidade que existe na gestão de nosso futebol.

O ideal seria a formação de uma liga independente, completamente desvinculada da CBF, que, por enquanto, ficaria apenas com o comando da seleção, até que uma revolução se complete e haja uma limpeza na entidade, de condutas e de nomes.

Existe uma grande descrença de que isso aconteça, pois o poder no futebol não deseja transformações. A desesperança é ainda pior que resultado de 7 a 1.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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