por Josias de Souza, no UOL
Todas as opiniões de petistas e tucanos sobre as iniciativas do PT e do PSDB são suspeitas porque são de partidários. É impossível ser inteiramente objetivo sobre a própria espécie. Até a autocrítica de petistas e tucanos, se existisse, seria inconfiável. Os elogios, então, não merecem a mínima credibilidade. Fata-lhes o distanciamento e a isenção. Ou seja, você está sozinho.
Numa democracia, esse regime que lhe assegura irrestrita liberdade para exercitar sua capacidade de fazer besteiras por conta própria, tudo o que você precisa para errar conscientemente é de informação. O horário eleitoral e os debates foram concebidos com o propósito de lhe informar. Mas o cinismo foi o mais próximo que o marketing conseguiu chegar da verdade.
O primeiro passo para decidir aonde você quer chegar com o seu voto é descobrir onde você está. A propaganda da candidata à reeleição se esforça para lhe convencer de que o Brasil que você vê não é o Brasil de verdade, é outro país. Quando você sai de casa e dá de cara com o Brasil que a propaganda governista diz que não é o Brasil, você deve ficar tentado a perguntar de si para si: se não é o Brasil, que diabo de país é este?
Noutros tempos, você ainda podia recorrer às estatísticas oficiais para tentar se localizar. Já não pode mais. Os repórteres Fábio Takahashi e Sofia Fernandes informam que o governo decidiu adiar para depois da eleição a divulgação de dados negativos.
Já tinham descido à gaveta os números sobre o desmatamento e a atualização de um estudo sobre a quantidade de pobres e miseráveis no país. Pois decidiu-se sonegar aos refletores até o desempenho dos alunos brasileiros em português e matemática e o montante de tributos coletado pelo fisco.
Que país é esse?, você volta a perguntar aos seus botões, que não respondem porque não falam com qualquer um. Olhando ao redor, você vê alastrar-se a seca. Antes restrita ao Nordeste, a falta d’água já infelicita cariocas e, sobretudo, paulistas. No Rio, as torneiras secam na Baixada Fluminense. São Paulo já está na segunda cota do volume morto do sistema Cantareira.
Numa dessas, você acaba se convencendo de que o Brasil é, em verdade, um imenso deserto. Como a metereologia não prevê grandes precipitações pluviométricas até o domingo das eleições, o melhor que você tem a fazer é estocar água. A mistificação da propaganda eleitoral e o Saara estatístico talvez lhe privem da informação necessária para escolher o melhor presidente. Mas de sede você não morre.