Do blog Cabeça de Pedra
Cinto muito. Cinto tudo. Cinto. Ele ganhou de um amigo. Há muitos e muitos anos. Nunca mais quis saber de outro. Pensou nisso recentemente, quando foi tirar a bermuda junto com a cueca, de uma vez, sem desafivelá-lo. Não foi muito difícil. Barrigudo, a vestimenta estava no pé da barriga, como falam os nordestinos. Ele então olhou para o cinto, de uma marca de skatistas, coisa que nunca foi e nunca será, mesmo porque chegou aos 70 anos e dá graças a Deus estar vivo. A tira de couro que era preta, perdeu a cor, ficou meio fora do prumo, pedaços das linhas do pesponto penduradas. O cinto da preferência aguentou tudo – e nunca foi tirado para bater em inimigos, apesar de ele ter vontade de fazer isso. No guarda-roupa, pendurados, vários que ele comprou neste tempo. Nunca foram usados. Achava que seria uma traição para com aquele velho companheiro. Então ele desafivelou e o tirou das garras dos passadores da bermuda. Fi com ele entre as mãos, olhando enternecido o companheiro. Saiu dali e mandou mensagens para os filhos. A ordem era para que o cinto estivesse junto na hora da cremação.