Do blog Cabeça de Pedra
A mulher gritou, a filha nasceu, um pássaro voou, ele chorou. Lavou o rosto na água fria do balde. O coração estava aos pulos porque era a primeira herdeira. Ele olhou o pé de manga centenário ao lado da casa. Cachos da fruta ainda verde faziam ele sentir o gosto. No cercado, um bezerro mamava na vaca. Mais adiante os pés de mandioca denunciavam a hora próxima da colheita. Fim de tarde. A parteira apareceu na porta e perguntou se ele não ia ver a filha. Gritou que ela era saudável e a mãe estava bem. Os olhos dele marejaram. Tomou coragem e foi ver o bebê. Mas antes um pé de vento fez um lençol branco quase alçar voo no varal esticado atrás da casa humilde. Resolveu recolher. Viu então o bichinho verde. Gafanhoto lindo parecendo folha estilizada. Estava grudado no pano branco. O vento passou. Ele deixou tudo lá. Entrou com o nome na boca. Olhou para a mulher, para a menina, pegou-a no colo e disse: “Esperança”.