10:49Um utopista para presidente

por Yuri Vasconcelos Silva

No domingo bebeu demais. Apesar de seguir o bom senso de nunca discutir sobre política, religião ou dietas, assuntos em que todos e ninguém tem razão, o arquiteto Erre de Bastos subiu à mesa delirado de álcool e sucumbiu ao seu ego (de novo). Defendeu o candidato ideal para a presidência da república. Ele mesmo.

Como um utopista, discursou enquanto ilustrava com pincéis atômicos lindas idéias destinadas ao seu país.

Prometeu que modernizaria e triplicaria o tamanho dos portos, com capacidade para atracar os maiores meganavios do mundo – e assim aumentar o fluxo de caixa do Brasil na balança comercial. Para não sobrecarregar as então precárias rodovias que ligam as zonas de produção aos portos, implantaria linhas férreas duplas, em uma nova e interligada malha ferroviária nacional. Nestes trilhos paralelos, cada trem cruzaria pela metade do tempo os principais estados industrializados ou agrícolas. Passariam por várias Centrais Intermodais, lugares onde receberiam a carga dos caminhões, diminuindo o custo do transporte, o tempo perdido em filas para as cargas descerem aos cais e a perda de grãos em nossas estradas. Todas as cidades com mais de oitocentos mil habitantes seriam interligadas por rodovias de concreto, inteligentes que monitoram, controlam e conversam com o tráfego. Com pistas dotadas de canaletas exclusivas para os veículos de carga.

Como já previsto por muitos, nossa xodó Petrobras não conseguirá explorar todo o potencial do pré-sal encontrado, pois nos próximos 50 anos o mundo vai evoluir e deixar de utilizar o hidrocarboneto como fonte de energia primária. Erre de Bastos proporia então a criação imediata de uma subsidiária da estatal voltada para a pesquisa e produção de energia limpa. Grandes plantas de energia solar, energia eólica, biomassa e energia nuclear vão paulatinamente substituir o principal produto da estatal que, preparada para o futuro óbvio, nos venderia combustível vegetal e eletricidade para abastecer não só nossos veículos, mas nossas casas e industrias. Aliado a esta nova fonte energética, um decréscimo agressivo de impostos tornaria os carros elétricos ou movidos a etanol o mais baratos possível. Os moradores das residências que gerarem sua própria energia teriam descontos no uso do transporte coletivo, no abastecimento de seus carros ou na compra de ingressos para o show do Roberto Carlos (para atingir o público em todas as classes).

No litoral do nordeste, Bastos criaria uma faixa de Zona Livre de Jogos, onde os cassinos, parques temáticos, rede hoteleira e indústria de entretenimento poderiam atuar, com incentivos fiscais para implantação e funcionamento. A renda dos tributos desta Zona seria investida no sertão nordestino, com ações de irrigação e agricultura em áreas secas, seguindo modelos adotados em Israel e Arábia Saudita. O litoral do nordeste poderia se tornar um dos mais importantes centros turísticos do mundo, num misto de Las Vegas, Abu Dabhi e Olodum.

Antes da próxima proposta, Bastos girou seu calcanhar num limão e caiu da mesa sobre um de seus pincéis atômicos, fato este suficiente para lhe calar a boca pelo resto da noite.

Apesar do vexame alheio, os presentes àquela mesa concordaram que ouviram mais propostas de um bêbado deslumbrado em vinte minutos, do que em meses de campanha dos reais – e alguns surreais – candidatos.

*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto

4 ideias sobre “Um utopista para presidente

  1. leandro

    Texto genial. Atual e real, na minha modesta opinião só faltou dizer qual a bebida que o Erre de Bastos tomava, acho que era 51.

  2. Célio Heitor Guimarães

    Escrevi de Barros?! No meu caso, não é problema com 51, mas com Al (Zheimer), o maldito alemão.

  3. jar

    Pô é verdade o meu problema é a falta da 51 , errei mesmo, mas o resto é minha opinião. Abraços.

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