por Célio Heitor Guimarães
Tenho dito e repetido desde os velhos tempos do falecido matutino O Estado do Paraná: não se deve acreditar nas pesquisas pré-eleitorais de intenção de voto. Os institutos de coleta de opinião pública, salvo raríssima exceção, não são confiáveis. Como entidades comerciais, trabalham por encomenda e não têm a menor intenção de desagradar quem os contrata. Muito menos prejudicar os interesses políticos dos detentores do poder. Assim, pesquisas malfeitas, conduzidas por metodologias falhas e tendenciosas, prestam-se apenas para induzir o eleitor, posto que, no Brasil, o eleitor tem a tendência de votar em quem supostamente está na frente ou eventualmente tem mais possibilidade de vitória. Como corrida de cavalo.
Ainda assim, a cada processo eleitoral, na hora do resultado, é, como diz o amigo Márcio Augusto, “aquela fiasqueira”. E o fiasco se repete a cada pleito. Para ficar apenas no plano federal, em 2006, Lulinha Paz e Amor era dado como reeleito, com ampla margem de votos, sobre o oponente Geraldo Alckmin, já no primeiro turno. Não foi. Em 2010, seria a vez da sra. Dilma Rousseff, candidata criada no laboratório palaciano pelo cientista político Luiz Inácio da Silva. Desembestou na frente e a vitória seria de tala erguida, como se dizia no meu tempo, na raia de corrida de cavalo do Alto do Monge, na velha Lapa. E que queria dizer, para quem não é da época, sem precisar açoitar o baio ou o tordilho. Na abertura das urnas, Dilma conquistou em torno de 46% dos votos contra 32% dados a José Serra.
Este ano, a ladainha foi reprisada. Dilma partiu na frente e desse modo se manteve durante toda a campanha. E o PT, amparado nos boletins avaliadores da intenção do eleitorado, alardeou, outra vez, que venceria já no primeiro turno. Nesse sentido, fez o que pôde para desmoralizar uma miúda cavaleira, que entrou tardiamente no páreo e atropelou na largada, e desdenhou um moçoilo das Minas Gerais que corria sobre um zaino com cara de matungo. Na sexta-feira que antecedeu a eleição, Dilma tinha 45% da votação; Marina, 27%; e Aécio, reles 24%. No sábado, uma pequena modificação: Dilma com 46%, Aécio com 27% e Marina com 24%. No domingo, a realidade foi revelada: Dilma 41,59%; Aécio, 33,55%; e Marina, 21,32%. Segundo turno a ser disputado entre Dilma e Aécio. Bem feito para os ibopes da vida e para aqueles que acreditaram neles!
A explicação da nova e bela “margem de erro”, oferecida pela diretora do Ibope foi de uma preciosidade atroz: “O eleitor mudou o voto no último minuto”. E ela nem enrubesceu ao dizer isso. Pelo contrário, aprofundou a tese furada. Segundo dona Márcia Cavallari, “essa era uma eleição com mais incertezas”; o crescimento do candidato Aécio “continuou após o fim da pesquisa”; e “o eleitor teve um interesse tardio por essa eleição”.
No caso particular do Rio Grande do Sul, onde o Ibope sinalizava a reeleição do governador Tarso Genro e a derradeira pesquisa conferia-lhe o primeiro lugar com 35% das intenções de voto, mas o desfecho foi bem diferente, com a dianteira de José Ivo Sartori (que o instituto garantia empacado em terceiro lugar), dona Márcia saiu-se com outra pérola: “Quando o movimento do eleitor é brusco, a pesquisa não capta”.
Se assim é, por que a realização e divulgação dessas pesquisas? Se a eleição é feita de incertezas, se o eleitor só se interessa tardiamente por ela, é capaz de um movimento brusco ou pode mudar o voto no último minuto, as pesquisas pré-eleitorais não valem nada e servem apenas para gerar lucros para os ditos institutos de consulta, confundir o eleitor e assombrar aquele ser abstrato e cheio de manhas chamado mercado.
Muito se poderia dizer sobre a conduta dos profetas da preferência popular. A maioria das coisas não muito dignificantes, mas prefiro recorrer a uma detecção feita pela revista Veja nas eleições gerais de 2010: de um universo de 135 milhões e 800 mil eleitores, os institutos de pesquisas ouvem cerca de 3.000 eleitores. Ou seja: 0,002% da população que vota. E acham que, com essa amostra, estão em condições de ditar a opinião pública.
Ao que se sabe, os institutos se utilizam de um sistema denominado amostragem por conglomerados (ou clusters), completamente aleatório. O TSE, por seu turno, não faz qualquer análise qualitativa nem defere ou homologa o teor, o método ou o resultado das pesquisas. Apenas o registra. Eu, por exemplo, em mais de setenta anos de vida, nunca fui pesquisado nem conheço quem tenha sido. Quer dizer: eu e os meus conhecidos não fazemos parte das cerca de 2.500 pessoas selecionadas para a amostragem. Isso mesmo! O país é dividido por regiões. E se nos valermos de quantitativos utilizados em 2010, que não devem ter mudado muito em 2014, teremos o seguinte quadro, em números redondos: Região Norte/Nordeste, 840 pessoas; Estado de São Paulo, 570 pessoas; em Minas, segundo maior colégio eleitoral do Brasil, 260 pessoas; Rio de Janeiro, 280 pessoas; Região Sul, 380 pessoas; Região Central, 180 pessoas. Ou seja, perto de 34% dos entrevistados são das Regiões Norte/Nordeste. Nestas, cidades como Garrafão do Norte, Riachão do Jacuípe, Barbalha, Pintada e Itapissuma tiveram 14 entrevistados. Em cada uma delas. O mesmo que em Campinas, Santos e Ribeirão Preto (SP), Ponta Grossa (PR), Joinville, Blumenau e Florianópolis (SC), Caxias do Sul e Pelotas (RS).
E é a isso que chamam de pesquisa…
Texto-sonho… tem conteúdo e saboroso de ler.
Como os teus, caro Yuri. Olha a cara do velho ZB, babando de alegria com o talento do filho.
Tem que incluir aí as tais pesquisas de melhor prefeito, melhor governador. Tudo farinha do mesmo saco.